Humberto Casagrande Neto

Os programas de aprendizagem são fundamentais no desenvolvimento dos jovens. Com ele é possível formar novos profissionais de acordo com a cultura organizacional de cada empresa.

tA baixa produtividade do trabalhador brasileiro aparece com destaque, há tempos, na lista dos maiores obstáculos enfrentados por nossas empresas para ganhar espaço em um mercado global cada vez mais competitivo. No entanto, continuamos a despencar no ranking dos países que têm melhores resultados nessa área: segundo a Conference Board, empresa dos Estados Unidos especializada em estudos sobre negócios, o Brasil está na 52ª posição na lista de 67 países pesquisados em relação à produtividade da mão de obra. Mais ainda, há 10 anos “patinamos” no nível de US$ 18 gerados por hora trabalhada, muito abaixo de países em estágio equivalente de desenvolvimento.

Estamos, portanto, diante de um tema de reconhecida importância para o país, mas em que, ao mesmo tempo, continuamos a ter desempenho pífio. Fica evidente, diante essa realidade, que é preciso agir sem perda de tempo para reverter esse quadro.

É o caso da qualificação do trabalhador. Temos o crônico problema da má qualidade da educação no país, que se tenta minimizar com várias iniciativas do governo e das empresas com programas de aperfeiçoamento da mão de obra. Mas os resultados desses louváveis esforços têm sido insuficientes. Entretanto, existem alternativas já à disposição que, se utilizadas da maneira adequada, certamente ajudarão, e muito, a encaminhar as soluções para o problema. O programa de aprendizagem é uma delas.

A importância da aprendizagem pode ser medida em números. Pesquisa do Datafolha com 1.809 pessoas que foram aprendizes do programa do CIEE e Fundação Roberto Marinho mostra que 53% dos entrevistados estavam trabalhando depois de participarem da aprendizagem. Além disso, a renda média dos egressos é de R$ 1.197 por mês, quase o dobro do que recebiam como aprendizes. Motivo: o programa resultou em aumento da qualificação, da empregabilidade e, por consequência, da renda. A importância do aumento de renda é ainda maior quando se constata que 81% dos entrevistados contribuem para as despesas da família e que essa colaboração representa 36% do total que recebem.

A importância da aprendizagem é reforçada quando se recorda a precária situação do mercado de trabalho. O Brasil tem cerca de 33 milhões de jovens entre 15 e 24 anos (mais de 30% da população do País), dos quais 7,6 milhões são “nem-nem” (não estudam nem trabalham). Esse contingente tem tamanho praticamente igual ao de estudantes matriculados em cursos graduação, que eram 8 milhões em 2017, pelos dados do Ministério da Educação (MEC). Com a aprendizagem, esse imenso grupo de “nem-nem” pode ser reduzido de maneira significativa, com o aumento da empregabilidade.

Apesar desses dados tão significativos, a legislação que rege a aprendizagem ainda é pouco conhecida das empresas. A lei determina que entre 5% e 15% das vagas das companhias de médio e grande porte sejam destinadas a esses jovens, que devem estar estudando ou já ter se formado. Mas poucos seguem essa regra. O CIEE estima que o potencial do mercado brasileiro é de 1 milhão de aprendizes, mas há apenas 420 mil jovens trabalhando nesse regime – ou seja, menos da metade do potencial. Demanda existe, mas, talvez por desconhecimento, esse enorme potencial não é aproveitado.

Os programas de aprendizagem são fundamentais no desenvolvimento dos jovens. Com ele é possível formar novos profissionais de acordo com a cultura organizacional de cada empresa. Ao mesmo tempo, traz juventude e um novo olhar para as empresas.

É importante ressaltar que na pesquisa encomendada ao instituto Datafolha, contatamos que 25% dos jovens que participaram do programa Aprendiz CIEE foram efetivados na empresa em que participaram do programa. É um número considerado muito relevante, uma vez que o contrato de aprendizagem é temporário, válido por dois anos.

Com essa pesquisa também constatamos 76% dos egressos que concluíram a aprendizagem entre 2016 e 2017 estavam trabalhando ou estudando e que 30% conciliam as duas atividades.

Trata-se, portanto, não apenas de inovar – embora esse ponto tenha grande importância – quando se buscam soluções para os graves problemas de qualificação da mão de obra e da empregabilidade. É, também, uma questão de utilizar os instrumentos adequados que já se tem à mão. A sociedade brasileira precisa que caminhemos nessa direção, até porque sem maior produtividade não será possível alcançar o tão necessário desenvolvimento sustentável.

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*Humberto Casagrande Neto é superintendente geral do Centro de Integração Empresa - Escola - CIEE.