Por Assis Moreira, Valor — Genebra

Os efeitos desproporcionais da pandemia de covid-19 exacerbaram as desigualdades e ameaçam enfraquecer o potencial produtivo de toda uma geração, alerta a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Uma pesquisa efetuada pela entidade conclui que a crise tem um efeito devastador sobre a educação, formação e bem-estar mental dos jovens entre 19 e 29 anos de idade.

Essa situação é preocupante na América Latina, e especificamente no Brasil. A pesquisa não trás detalhes por região, mas outro relatório recente da OIT mostrou que o Brasil continuará a ter o dobro da taxa de desemprego entre os jovens (de 15 a 24 anos) em relação à média global em 2020-21. E que um entre quatro jovens no Brasil não tem atualmente escolaridade, nem emprego e nem formação.

A pesquisa revelada hoje pela OIT indica que, desde o início da pandemia, mais de 70% dos jovens que estudam ou combinam estudo e trabalho foram duramente atingidos pelo fechamento de escolas, universidades e centros de formação.

Nada menos de 65% dos entrevistados dizem ter aprendido menos desde que a pandemia provocou a transferência do ensino, das salas de aulas para estudo virtual a distância. A metade pensa que o fim de seus estudos será adiado. Cerca de 9% vê risco de abandonar a escola.

Essa situação se reflete também no fosso digital entre regiões: 65% dos jovens originários de países desenvolvimento puderam continuar seus estudos por videoconferência, comparado a apenas 18% daqueles que vivem nos países pobres.

Com a pandemia, um entre seis jovens teve que parar de trabalhar. E 42% dos que conseguiram manter seu emprego viram sua renda diminuir.

Tudo isso tem incidência sobre o bem-estar mental. A pesquisa mostrou que 50% dos jovens podem estar sujeitos a ansiedade ou depressão, e outros 17% sofrem provavelmente dessas doenças.

Shangeon Lee, especialista da OIT, admite risco de geração perdida diante do “impacto sem precedentes (da pandemia) sobre os jovens”. O atraso na formação tem um peso forte nas economias.

Para outra especialista, Susanna Puerto, a recessão na América do Sul é mais dura para os jovens do que para outros grupos da população. Isso piora com o fato de que 50% da população ativa na região tem emprego informal, sem proteção social.

Ela lembra que o número de horas trabalhadas no mundo no segundo trimestre caiu 14%, o que equivale a perda de 400 milhões de empregos a tempo integral (levando em conta semana de 48 horas de trabalho). E a América do Sul tem sido especialmente atingida.

A OIT preconiza respostas políticas urgentes, para evitar que a crise piore ainda mais as perspectivas de emprego de toda uma geração de jovens. Inclui programa de reintegração no mercado de trabalho, assegurar que os jovens se beneficiem de seguro-desemprego e medidas para estimular sua saúde mental.

(Conteúdo publicado originalmente pelo Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor)