Acredita-se que o contingente de 12,8 milhões de desempregados esteja subestimado. Com a reabertura, brasileiros voltarão às ruas em busca de vagas.

Desemprego tende a aumentar - Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Após a destruição causada pela pandemia do novo coronavírus, como ficará o emprego? Recentemente, o governo federal comemorou dados de julho do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), indicando a criação de 131 mil vagas formais. No entanto, especialistas alertam que o emprego teria de crescer a um ritmo bem mais rápido para criar postos que absorvam toda a população que ficou sem ocupação devido à crise sanitária.

Acredita-se que o contingente de cerca de 12,8 milhões de desempregados, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) referentes ao segundo trimestre de 2020, esteja subestimado. O motivo é que, com a pandemia, muitas pessoas deixaram de procurar uma ocupação. Durante a reabertura, essas pessoas voltarão progressivamente ao mercado de trabalho.

“As pessoas durante a pandemia perderam seu emprego e agora estão regressando com a abertura. Estima-se que sejam mais de 20 milhões de pessoas. Esses 13 milhões é só o número de quem está nessa condição de desemprego estatisticamente. O que caracteriza a condição de desempregado é o que a gente chama de busca ativa por emprego”, explica Fausto Augusto Júnior, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

A estimativa de potenciais 20 milhões de desempregados baseia-se em dado do IBGE que indica que cerca de 8 milhões de pessoas deixaram o mercado de trabalho durante a pandemia, número calculado para o trimestre encerrado em junho. Segundo o diretor do Dieese, absorver esse enorme contingente de brasileiros não será nada fácil.

“O que você perdeu, ao longo dos três meses de pandemia, foi 1,5 milhão de empregos. Agora, são 100 mil empregos [gerados segundo o Caged]. Se continuar nesse ritmo, a gente vai levar 15 meses só para voltar ao que era antes da pandemia [no trimestre até fevereiro de 2020, antes da crise do coronavírus, a taxa de desemprego no Brasil estava em 11,6%] . A gente parou de piorar. Os 131 mil fazem parte do fluxo normal. Mas está muito, muito aquém da demanda”, analisa.

Fausto Augusto Júnior ressalta também que a pandemia ainda está acontecendo. Recomendações de segurança seguem em vigor e para alguns setores, como turismo e eventos, a reabertura ou criação de postos de trabalho não acontecerá tão cedo.

A opinião é compartilhada pelo sociólogo Clemente Ganz Lúcio, consultor das centrais sindicais. “O contingente de pessoas [em busca de emprego] vai ser maior do que os postos de trabalho. Nós vamos ter um aumento do desemprego, mesmo que tenhamos um resultado positivo em termos de geração de ocupação. Tem mais pessoas ocupadas, mas, proporcionalmente, tem mais pessoas desempregadas. Depois, [a taxa] tende a parar de crescer porque as pessoas vêm procurar e depois vão para o desalento [situação caracterizada pela desistência de procurar emprego]”, avalia.

Urge reativar a economia

A prorrogação por dois meses do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, que permite às empresas medidas como redução de jornada e salário e suspensão do contrato de trabalho, deve evitar o agravamento da situação ainda por mais um tempo, afirma Clemente. O mesmo se aplica ao auxílio emergencial, reduzido por Jair Bolsonaro de R$ 600 para R$ 300.

A garantia do auxílio até dezembro pode retardar a saída das pessoas em busca de emprego. A forma como a prorrogação foi feita, no entanto, cortando o valor pela metade, pode se revelar uma faca de dois gumes. O auxílio insuficiente para subsistência pode levar o brasileiro às ruas mais cedo.

Segundo Clemente Ganz Lúcio, para aproveitar o tempo comprado pelo programa emergencial e pela transferência de renda do auxílio, o governo deveria investir pesado em estimular a economia.

“Teria que ter simultaneamente um investimento público muito forte e uma capacidade de mobilizar o investimento privado. O investimento privado observa se tem demanda. Se o governo vai comprar, se as pessoas vão consumir, se vai haver mercado externo, o que não é o caso nesse momento. Precisa ter uma política de renda das famílias. O governo tende a oferecer uma estratégia de inserção que é precarizante. Tende a trazer uma geração de renda abaixo daquilo que a gente tinha antes da pandemia, o que não é nada alvissareiro, nem estimulante para a economia”, conclui.

Fonte: Vermelho