Wagner FajardoWagner Fajardo

                          

“Parceria Público Privada (PPP) é na realidade um presente para a iniciativa privada” afirmou Wagner Fajardo, coordenador do Sindicato dos Metroviários de São Paulo. A privatização do metrô paulista aumenta a ofensiva no estado fortalecendo a lógica da política privatista anunciada na esfera federal para a Eletrobras. A direção da estatal vê a adoção das PPPs como a solução para a venda.

Por Railídia Carvalho

                      

“PPP não resolve. Entregar um setor estratégico é danoso para a economia e para a soberania do país”, completou Fajardo durante entrevista nesta terça-feira (26) no Centro de Mídia Alternativa Barão de Itararé.

O processo de privatização das linhas 5 e 17 define bem o que dirigente chamou de “presente para a iniciativa privada”: O lance mínimo para o leilão é de R$ 193 milhões, o que equivale a 2% do total gasto com a construção dos trechos das linhas 5 e 17 ou 50 vezes menos o que foi gasto. “A iniciativa privada não corre riscos. É só chegar e lucrar”, afirmou o metroviário.

                           

A preço de banana


O raciocínio de Fajardo se encaixa na privatização da Eletrobras. Na inauguração dos encontros sobre privatização de serviços essenciais no Barão de Itararé, o dirigente eletricitário Eduardo Annunciato, o Chicão, alertou que o governo Temer quer arrecadar 20 bilhões com a venda da Eletrobras quando os ativos da estatal são estimados em 370 bilhões. 

“Uma única usina vale 20 bilhões”, ressaltou Chicão. O sistema Eletrobras é formado por 47 hidrelétricas (com potencial instalado de 41 mil megawatts), 114 termelétricas, 69 usinas eólicas e duas usinas nucleares. Possui 70 mil km de linhas de transmissão e detêm 10% do mercado de distribuição.

Na terça-feira (2), a conversa sobre privatização e serviços essenciais continua no Barão com o setor de água, esgoto e saneamento básico. Participam neste dia dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema). O segmento também está na mira das privatizações como contrapartida pelo refinanciamento da dívida dos estados com a União.

                                       

Lucro para privadas, prejuízo para usuário

“O Estado entrega toda a parte civil, equipamento, todo o sistema de graça. Em 4 meses operando a linha, a concessionária recupera o valor investido”, ressaltou Fajardo (foto) esclarecendo a lógica da privatização.

A linha 4 do metrô em São Paulo e o metrô do Rio de Janeiro foram usados como exemplos pelo dirigente para mostrar como a privatização é um grande negócio para as empresas e ruim para a população. 

“O governo do Estado colocou 85% dos 5 bilhões que custou a construção da linha amarela. A concessionária entrou com 15%, sem obrigação de investir a mais, só precisa fazer a manutenção”, explicou Fajardo. Para as privatizações futuras no metrô a lógica é a mesma da linha 4. 

“No Rio tinha mais de 200 km de ferrovia e metrô. Hoje tem pouco mais de 100 km. Após a privatização várias linhas foram fechadas, a tarifa é a mais cara da América Latina e tem um dos piores serviços prestados à população”. O Metrô do Rio de Janeiro foi privatizado em 1998.

                                   

Defesa do metrô público

Nesta quinta-feira (28), os metroviários de São Paulo realizam um ato para denunciar a privatização nos transportes. A suspensão nesta segunda-feira (26) da licitação para privatização das linhas 5 e 17 do metrô fortalece as denúncias do sindicato contra a ofensiva privatista estatal e federal. 

Entre as ações dos metroviários contra a privatização está ainda o plebiscito em defesa do metrô público. A votação iniciou em agosto e prossegue neste mês. As estações Sé, Tatuapé e Capão Redondo, está última ameaçada de ser privatizada, receberam as urnas para votação. Para votar online clique AQUI.

“Apesar de termos resultados favoráveis ao metrô público sabemos que a população ainda não tem muito claro o que é público e o que é privado”, analisou Fajardo. “Não disputamos a comunicação quando estivemos nos governos populares assim como também não usamos esse período para valorizar o que era público”, destacou. 

                                

Racismo

Além do combate à privatização, o ato desta quinta-feira denuncia a terceirização das bilheterias do metrô e demissões que vem ocorrendo na empresa baseadas em avaliação de produtividade, que tem os critérios contestados pelo sindicato. 

Também haverá um protesto contra a demissão do trabalhador do metrô Valter Rocha que denunciou ter sido alvo de ofensas raciais por parte de um usuário. O trabalhador respondeu às ofensas e foi demitido pela empresa. O sindicato considera “absurda” a demissão do metroviário e tenta reverter a decisão.



                      

Fonte: Vermelho, 28 de setembro de 2017