CORRIDA PRESIDENCIAL

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O ex-juiz Sergio Moro visitará o Senado, nesta terça-feira (23), para defender a aprovação de uma proposta de emenda constitucional paralela à PEC dos Precatórios, aprovada pela Câmara. Levado pelo senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), Moro dará mais um passo em sua candidatura presidencial, avançando sobre o território de outro postulante ao Planalto em 2022, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). As movimentações do ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, um dos mais novos integrantes do Podemos, aumentam a pressão no PSD para que Pacheco assuma de uma vez por todas a sua condição de pré-candidato à Presidência.

O receio de aliados do senador é que ele demore demais a largar, deixando Moro disparar como nome mais viável da chamada terceira via, em oposição a Bolsonaro e ao ex-presidente Lula. Demora que também poderia, ainda segundo os defensores do lançamento imediato da pré-candidatura, reduzir as chances de ele se viabilizar como um eventual candidato a vice.

A decisão do senador também pode afetar o destino de outro político em conversas adiantadas com o PSD, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, que está de saída do PSDB. Assim como Pacheco, Alckmin também tem sido citado como um possível candidato a vice-presidente. Alckmin tem a experiência e a visibilidade de quem governou o principal estado do país quatro vezes e de quem disputou a Presidência em duas oportunidades. Aos 45 anos, o senador mineiro está em seu sétimo ano de mandato político.

“Há certa apreensão no partido para que Pacheco entre logo no páreo. Ele está muito tímido. Tem de assumir logo que é candidato”, defende um companheiro de partido do presidente do Senado, sob anonimato. Para esse colega, o senador também precisa descer do muro, assumir posições firmes e calibrar sua fala caso queira conquistar votos. “Discurso de defesa do Estado de direito é uma maravilha, mas não ganha eleição”, acrescenta, referindo-se a uma das expressões mais usadas por Pacheco em seus pronunciamentos.

Um parlamentar do PSD ouvido pelo Congresso em Foco avalia que o senador mineiro tem condições de avançar sobre os dois eleitorados mais cobiçados do país no momento – o lulista e o bolsonarista –, capacidade que ele não vislumbra nem em Moro nem no PSDB. Os tucanos acirraram a disputa interna no fim de semana, com a falha no aplicativo de votação das prévias do partido, que deve apontar João Doria ou Eduardo Leite como presidenciável.

“Moro está tirando votos do Bolsonaro. Quem é Lula ou de centro-esquerda jamais votará no Moro”, diz ele, citando levantamento divulgado nessa segunda pelo Instituto Paraná Pesquisa no qual o ex-juiz da Lava Jato aparece na terceira colocação com 11% das intenções de voto. A presença inédita do nome de Moro no levantamento do instituto, agora, coincide com perda de cerca de sete pontos percentuais de Bolsonaro na comparação com a pesquisa anterior, realizada em junho.

Sem pressão

Abertamente, colegas do senador negam existir qualquer cobrança sobre ele. “Não existe pressão. Rodrigo Pacheco, como todo mineiro, aguarda a hora certa. No momento, o nome em discussão e aposta da maioria da bancada é o de Rodrigo”, ressaltou o senador Angelo Coronel (PSD-BA). O partido tem encontro nacional marcado para esta quarta-feira (24). Na ocasião, a legenda pretendia filiar o apresentador de TV José Luiz Datena, que refugou nessa segunda, alegando que precisa de mais tempo para pensar diante da iminente chegada de Alckmin aos quatros da legenda.

Com previsão de formar uma das maiores bancadas da Câmara, no próximo ano, o PSD também vislumbra governos de estados importantes e deve assumir o protagonismo perdido por partidos como o próprio PSDB e o MDB. Pacheco chegou à presidência do Senado com a simpatia de Bolsonaro e o apoio declarado do PT. Com a fala mansa, ao melhor estilo da tradicional escola mineira de fazer política, é conhecido pelo tom cuidadoso com que trata as articulações políticas. Reservadamente, ele diz a aliados que pretende assumir a entrada na corrida presidencial apenas no início do próximo ano.

Embora não tenha verbalizado com todas as letras suas pretensões, o senador tem deixado evidente suas pretensões eleitorais. Questionado em reunião na Associação Comercial de São Paulo nessa segunda-feira se aceitaria ser candidato ao Planalto, Pacheco recorreu a uma frase imortalizada pelo escritor Guimarães Rosa (1908-1967), também mineiro. “O que a vida nos exige é coragem e eu a tenho de sobra”, disse. A sentença também é lema da ex-presidente Dilma Rousseff, candidata derrotada por ele na disputa ao Senado em 2018.

Em seu discurso de filiação ao PSD, em 27 de outubro, Pacheco também evidenciou o eleitorado e o cargo que mira. “Já passou da hora de voltar ao diálogo, de retomar o equilíbrio, o desenvolvimento e a paz. Somente através da união de esforços dos agentes públicos é que poderemos fazer respeitar a Constituição, garantindo dignidade, trabalho, moradia, segurança, saúde e educação para a nossa população”, discursou. A reportagem procurou o senador mineiro e o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, mas não houve retorno da parte deles até o momento.