Por Ana Conceição, Valor — São Paulo

O PIB do terceiro trimestre mostrou um bom resultado na construção, que cresceu 3,9% sobre o período de abril a junho e 10,9% sobre o mesmo período do ano passado. O resultado deixa o setor mais próximo de um crescimento de 8% no ano, diz Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV Ibre. A instituição prevê, por enquanto, crescimento de 7,6%, uma estimativa que já tinha sido revisada para cima.

No acumulado em 12 meses, a construção cresce 5,6%, um desempenho que não era visto desde o primeiro trimestre de 2014, quando avançou 6,2%. O setor cresce a taxas fortes desde o terceiro trimestre do ano passado. Embora a construção seja um setor muito sensível ao aumento dos juros, as perspectivas ainda são positivas, afirma Castelo. É preciso diferenciar duas frentes, diz. A primeira é a do setor privado, a segunda do ponto de vista das famílias.


Como uma atividade de ciclo longo, a atividade recente reflete decisões tomadas há algum tempo. E neste sentido é bom lembrar que até pouco tempo não só a Selic estava mais baixa, na casa dos 2% ao ano, mas os juros longos estavam mais comportados, sem chegar a dois dígitos como agora.

mercado privado da construção se recuperou rapidamente depois de uma interrupção no início do ano passado e ainda que o PIB do setor tenha fechado no vermelho em 2020 (-6,3%), o emprego com carteira assinada no setor fechou com saldo positivo, mesmo após a revisão do Caged, que mostrou um saldo negativo de vagas no país no ano passado, ao contrário do que mostravam os dados iniciais. Na construção, o emprego continuou a crescer em 2021.

“A ocupação tem uma parte importante no PIB da construção neste ano tem uma parte importante da ocupação. Na Pnad, o emprego no setor tem crescimento de 20% no terceiro trimestre sobre o mesmo período do ano passado. A massa de renda cresce, apesar da queda do rendimento médio”, observa Castelo.

Além do emprego, outros dados computados no cálculo do PIB do setor também registram crescimento neste ano, como os materiais. “A produção de insumos típicos da construção até setembro teve aumento de 15%. As vendas internas de cimento sobem mais de 7%. Há números que mostram taxas de crescimento robustas na construção”, observa a economista.

No mercado imobiliário, as vendas continuam a crescer, o que garante novas obras e um ciclo de atividade positivo por mais algum tempo. Na infraestrutura, a eleição de governadores em 2022 deve garantir um ciclo de investimento em logística e transporte. “Os Estados estão com finanças favoráveis em função da inflação e da postergação de pagamento de dívidas. Entre o último trimestre e o próximo a infraestrutura pode ser um diferencial em termos de atividade”, diz Castelo.

Mas se o crescimento do mercado formal da construção deve durar algum tempo mais, a despeito dos juros mais altos, no mercado de autoconstrução (pessoas físicas reformando residências), o ciclo é mais curto e o impacto quase imediato.

“O chamado mercado formiga já dá sinais de arrefecimento”, diz Ana Castelo. O aumento dos custos dos materiais atingiu as famílias que tiveram queda de renda e aumento de endividamento. Além disso, outros itens passaram a ocupar espaço no orçamento com a reabertura dos serviços. “Já há uma dinâmica negativa. Embora a demanda esteja num patamar ainda alto ela tende a piorar à frente”.

Um desempenho mais positivo do setor privado somado a um resultado mais negativo das famílias ainda deve garantir algum crescimento no PIB da construção em 2022, algo em torno de 2%, o que é bem mais do que as estimativas para o PIB total do ano, que estão abaixo de 1%, com algumas apostas até de queda de 0,5%. “Será um ano desafiador e de transição”, diz Castelo.

Este conteúdo foi publicado originalmente no Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor Econômico

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