É inequívoca a constatação de que a pandemia de covid-19 que assola o planeta desde o final de 2019 aprofundou o abismo da desigualdade social, da miséria, da fome, sem contar as mais de 5,2 milhões de vidas perdidas e as quase 270 milhões de pessoas contaminadas, milhões destas com sequelas incapacitantes ou síndromes irreversíveis.

Vilson Antonio Romero*

vilson antonio romero artigoO maldito vírus fez virar pó a DUDH (Declaração Universal dos Direitos Humanos), promulgada em 10 de dezembro de 1948 pela ONU (Organização das Nações Unidas), sucedânea em parte da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, firmada em outubro de 1789 pela França revolucionária.

Assenta-se a DUDH num ideário consolidado através de séculos logrando permitir a qualquer habitante deste planeta, em quaisquer circunstâncias ou terras, poder sobreviver com dignidade, igualdade, liberdade, respeito e paz.

Mas a pandemia, com impacto socioeconômico de monta, atingiu de morte todos os 30 artigos da Declaração que tratam de questões como a liberdade, a igualdade, a dignidade, a alimentação, a moradia e o ensino.

Em especial, transformou em escombros o artigo XXV que professa: “Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle”.

Os direitos humanos seguem flagrantemente desrespeitados e as violações ocorridas durante a pandemia no Brasil, provocadas pelas ações e omissões do governo no enfrentamento à covid-19, faz com que siga sendo nossa preocupação fulcral, apesar de manifestações imbecilizantes como “prefiro perder a vida do que minha liberdade”, dita pelo mandatário maior e repercutida por autoridades “pseudossanitárias” que deveriam zelar pela vida e pela liberdade.

Será que algum dos mais de 616 mil mortos em território brasileiro clamou por liberdade? De que vale a liberdade depois da vida? É muito negacionismo e idiotices acumulados diuturnamente em nosso entorno.

Mas não podemos deixar de saudar e tentar preservar o ideário dos direitos humanos, apesar dos milhões de brasileiros desempregados, passando fome, revirando lixo e caminhões de descarte de ossos, matando lagartos e o gado esquálido na caatinga para juntar com um pouco de farinha ou água e tentar seguirem vivos.

Mas as violações tanto no Brasil quanto no mundo também envolveram o tráfico de pessoas, a exploração e abuso de mulheres e meninas escravizadas, a prisão de ativistas, a perseguição de grupos religiosos e minorias e o assassinato ou assédio de jornalistas, recrudescidas na crise viral mundial.

Temos, neste 10 de dezembro, aos 73 anos da promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos seguir combatendo esses descalabros e essas monstruosidades e selvagerias contra os cidadãos.

E continuar erguendo muito alto a bandeira em defesa da dignidade da pessoa humana, tentando ver e buscar, mesmo que, ao longe, um horizonte de fé e da esperança, pois somente com o respeito aos direitos humanos, consolidaremos cada vez mais a democracia, mitigaremos a chaga da desigualdade social e ajudaremos as sociedades a se desenvolverem com cidadãos livres e igualitários. Salve a DUDH!

(*) Jornalista, membro da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da @abinacional.

DIAP

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