por ANA ESTELA DE SOUSA PINTO

 

Cada novo robô industrial por 1.000 trabalhadores instalado nos Estados Unidos desempregou três pessoas, segundo estudo recém-divulgado por Daron Acemoglu, professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology), e Pascual Restrepo, da Universidade de Boston. "Há muita especulação sobre o que pode acontecer quando os robôs chegarem. Decidimos ir além e investigar o que já está de fato ocorrendo", escrevem os dois na apresentação do trabalho. De fato, as estimativas variam muito: de 9% dos empregos em risco nos próximos 20 anos nos países desenvolvidos, nos cálculos de Arnoud Arntz, da Universidade de Amsterdã, a 57%, na previsão do Banco Mundial, ambos sobre os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne os países mais ricos do mundo). Para medir o impacto real, Acemoglu e Restrepo estudaram regiões industrializadas dos EUA após a implantação de robôs classificados como "máquinas multitarefas reprogramáveis e controladas automaticamente". Há hoje em operação nos EUA quase 1,8 robô por 1.000 trabalhadores -em 2010, era 1,4 e na virada do século, 0,7. A indústria que mais os usa é a automotiva (39%), seguida por eletrônicos (19%). O trabalho de Acemoglu e Restrepo exclui outras tecnologias que podem substituir o trabalho humano (software ou máquinas mais simples) e decompõe o impacto dos robôs em duas vertentes: uma negativa, que ocorre diretamente sobre os trabalhadores, e outra positiva, com o aumento de produtividade da economia como um todo. Nas regiões do país mais expostas às máquinas multitarefas -o centro-oeste americano e parte da Nova Inglaterra-, os economistas observaram redução significativa do emprego e do salário. De 1990 a 2007, quando a taxa de robôs por 1.000 habitantes triplicou (de 0,4 para 1,2), cada nova máquina desempregou 6,2 trabalhadores (queda de 0,37 pontos percentuais da população ocupada) e os salários caíram 0,73%. No país como um todo há consequências econômicas positivas, como a redução do custo de produção que pode beneficiar outros setores. Esse ganho, no entanto, depende de quão fácil é substituir os produtos e do mercado de trabalho em cada região. Em seu estudo, Acemoglu e Restrepo calcularam que a possibilidade de substituição suaviza (pouco) o efeito sobre emprego e salário: a queda no emprego passa de 0,4 para 0,34 e a dos salários, de 0,75 para 0,5. Considerada a repercussão positiva sobre outros setores, a redução final é de 3 demitidos para cada novo robô e redução de 0,25% no salário. No total, segundo eles, foram desempregados entre 360 mil e 670 mil americanos desde a introdução das máquinas multitarefas no país, nos anos 1990. O próximo passo do estudo será aperfeiçoar estimativas de impacto futuro. Tomando como base o cenário mais agressivo do Boston Consulting Group de que o número de robôs industriais quadruplicaria até 2025, Acemoglu e Restrepo calculam uma perda de até 1,76 ponto percentual na taxa de ocupação e de até 2,6% na remuneração nessa década. "É um efeito mensurável, mas é preciso notar que, mesmo no mais agressivo dos cenários, estamos falando sobre uma fração pequena do mercado de trabalho sendo afetado", escrevem. "Nada respalda até o momento a visão de que novas tecnologias tornarão obsoleta a maior parte dos empregos e dos humanos."




Fonte: Bem Paraná / Folhapress, 18 de maio de 2017.