BRASILIA, DF, BRASIL, 29-12-2015, 12h00: O ministro chefe da casa civil Jaques Wagner durante entrevista exclusiva em seu gabinete, no Palácio do Planalto. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER) ***ESPECIAL*** ***EXCLUSIVO***O ex-governador da Bahia, Jaques Wagner

           

Segundo Groucho Marx, há uma maneira de saber se alguém é honesto: "Pergunte a ele. Se responder 'sim', é desonesto!"        

O ex-governador da Bahia Jaques Wagner parece ter se inspirado em Groucho ao comentar, em entrevista à Folha, a estratégia de reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014: "Estamos em campanha e tenta-se fazer palanque sobre um tema rejeitado pela população, que é a corrupção.... Ninguém ganha eleição dizendo 'sou honesto'. Até porque ninguém acredita".

Wagner errou em seu diagnóstico de que esse tema era "rejeitado pela população", mas acertou quando apontou para a questão da credibilidade de declarações sobre honestidade.

Na realidade, segundo dados do Lapop (Latin American Public Opinion Project, da Vanderbilt University), o Brasil é o país que apresentava maior preocupação com a corrupção no período entre 2004 e 2014. Só a Argentina obteve escore mais alto do que o Brasil —em 2010 e 2012— mas, na média da série histórica, o Brasil está a frente. Na rodada seis do World Values Survey, o Brasil ocupava o percentil 87% da distribuição das respostas à pergunta sobre se aceitar propina pode ser justificado. Isso significa que em apenas 13% dos países a preocupação com a corrupção era maior.

Em outras palavras, há uma norma na cultura política nacional de fortíssima rejeição à corrupção. Dados do Ibope mostram que, em 2015, o tema passou a ser a principal preocupação dos brasileiros, superando a saúde. Essa mudança paulatina teve início em 2006 na esteira do mensalão e se refletiu nas manifestações do primeiro semestre de 2013. Terá o PT ignorado a centralidade que o tema adquiriu no país, como sugere um de seus principais estrategistas na entrevista citada?

Há assim um paradoxo: a corrupção tornou-se muito impopular, mas políticos corruptos continuam populares, como atestam as pesquisas de opinião. São eleitos e reeleitos com frequência.

Há várias razões que podem explicar por que isso acontece, mas só tenho espaço para comentar uma.

A Lava Jato levou a uma exposição inédita do comportamento corrupto de agentes públicos no governo em suas transações com o mundo empresarial. Produziu um tsunami de informações sobre a corrupção sistêmica. Paradoxalmente, uma vez atingido o limiar da corrupção sistêmica, quanto maior a corrupção, menor será sua importância eleitoral.

Deparando-se com um cenário de mar de lama, os eleitores passam a descartar a honestidade como fator determinante do voto. Utilizando um critério regional, podem preferir, por exemplo, um político corrupto pernambucano a um paulista. Esse seria o cenário almejado pelo governador baiano. 

Fonte: Folha de S.Paulo, 16 de outubro de 2017.