Encontro realizado em setembro reunião 400 jovens sindicalistas da América LatinaEncontro realizado em setembro reunião 400 jovens sindicalistas da América Latina

                                   

                          

Cerca de 400 jovens sindicalistas da América Latina se reuniram em Buenos Aires, de 28 a 30 de setembro passado, para o 4º Encontro da Juventude Trabalhadora da Federação Sindical Mundial (FSM) – Cone Sul. Na ocasião, fui à capital argentina para representar a FITMETAL (Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil) e o Sindicato dos Metalúrgicos, Mecânicos e Eletricistas de Chapecó e Região.

Por Fabiana Souza*

                            

Com o tema “O papel dos jovens trabalhadores no contexto da crise mundial”, o Encontro ocorreu num momento em que, sob o governo ilegítimo de Michel Temer, a juventude brasileira vive um paradoxo dramático. O País nunca dispôs de uma mão de obra juvenil tão qualificada – e tão desiludida.

A crise política e econômica do Brasil, acentuada com o golpe contra a presidenta Dilma em 2016, retira empregos, oportunidades e direitos, em especial da juventude. Há uma reversão de expectativas e projetos – uma traição ao próprio futuro desses brasileiros.

                               

Da universidade para onde?

Graças ao o ciclo progressista aberto pelo governo Lula (2003-2010), iniciativas como a democratização do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e a criação do ProUni (Programa Universidade para Todos) garantiram uma maciça inclusão de jovens no ensino superior. De acordo com o MEC (Ministério da Educação), as matrículas em cursos de graduação mais do que dobraram entre 2002 e 2014, passando de 3,5 milhões para 7,1 milhões. No mesmo período, o País ganhou 18 universidades públicas, além de 173 novos campi.

Desde o golpe, porém, os ataques à juventude e a seu futuro não param. Os retrocessos corroeram inicialmente a educação pública, com medidas como a reforma conservadora do ensino médio e a Proposta de Emenda Constitucional 55 (PEC 55) – que limita por 20 anos os gastos do governo em áreas sociais.

Em seguida, a ofensiva atingiu a economia e o emprego. Em setembro, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgou um mapeamento das mudanças recentes no mercado de trabalho. Sua conclusão: “A crise econômica enfrentada pelo País vem atingindo com maior intensidade os mais jovens, que têm, simultaneamente, mais dificuldade de conseguir emprego e mais chance de ser mandado embora”.

Diante da crise de projetos e de rumos, é fundamental construir bandeiras de luta capazes de unir os movimentos e os jovens brasileiros, bem como a juventude latino-americana e caribenha
Sobressaem alguns dados sobre trabalhadores com idade entre 18 e 24 anos. De cada quatro desempregados nessa faixa etária, apenas um conseguiu nova ocupação no segundo trimestre de 2017. O índice de jovens que foram dispensados e migraram para o desemprego – que era de 5,2% em 2012 – agora está em 7,2%. Além disso, os jovens ocupados tiveram uma queda de 0,5% de salário na variação interanual, enquanto trabalhadores com mais de 60 anos, por exemplo, tiveram 14% de ganhos salarias.

                             

Luta mais árdua

As estatísticas confirmam uma tendência detectada pelo Pnad no primeiro trimestre. Dos 13,5 milhões de desempregados no Brasil naquele período, 65% tinham menos de 40 anos. Enquanto a taxa geral de desemprego chegou a 13,6%, os índices para a juventude ficaram ainda piores. Havia 28,8% de desempregados (4,5 milhões de trabalhadores) na faixa dos 18 a 24 anos. Já na população economicamente ativa de 14 a 17 anos, 45,2% (1,3 milhão de pessoas) estavam fora do mercado do trabalho.

Outra marca da gestão Temer é o desmonte da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), construída em 1943 (na Era Vargas) e aperfeiçoada ao longo do tempo. Em 2017, da “Lei da Terceirização Irrestrita” à reforma trabalhista, o governo retirou ou flexibilizou mais de 200 direitos. A luta dos jovens por empregos formais e decentes se tornou ainda mais árdua.

Diante da crise de projetos e de rumos, é fundamental construir bandeiras de luta capazes de unir os movimentos e os jovens brasileiros, bem como a juventude latino-americana e caribenha. Os ataques do imperialismo e do capital financeiro avançam não apenas no Brasil – mas no conjunto do continente, conforme demonstrado pelos depoimentos de diversas lideranças no Encontro da Juventude da FSM – Cone Sul.

Por tudo isso, o Encontro acerta ao propor uma plataforma unificada de ação para a região, com foco na defesa dos direitos sociais e trabalhistas. Fica cada vez mais claro que, para enfrentar tamanhos retrocessos, o movimento sindical pode – e deve – unir esforços, inclusive com o movimento estudantil, a fim de firmar mais parcerias por uma causa comum: os jovens trabalhadores.

*Fabiana Souza é Secretária de Juventude da FITMETAL (Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil) e tesoureira do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e do Material Elétrico (Stimmme) de Chapecó e Região (SC). 

                                     

Fonte: Vermelho, 19 de outubro de 2017