Relatório da Organização Internacional do Trabalho alerta para o aumento do desemprego e da precarização do trabalho em decorrência da desaceleração econômica global

Henrique Lessa

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) alerta sobre o crescimento do desemprego e da precarização do trabalho no mundo em decorrência da desaceleração econômica. As informações estão no relatório "Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo", divulgado nesta segunda-feira (16/1) em Genebra, na Suíça.

"A atual desaceleração econômica global provavelmente forçará mais trabalhadores e trabalhadoras a aceitar empregos de menor qualidade, mal remunerados, precários e sem proteção social, acentuando assim as desigualdades exacerbadas pela crise da covid-19", diz o documento.

Ainda segundo o relatório do organismo multilateral vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), o crescimento do emprego no mundo deve ficar em 1% no ano de 2023, menos da metade do crescimento observado em 2022. Segundo a OIT, a taxa de desemprego global deve ter um pequeno aumento, chegando a um total de 208 milhões de pessoas sem emprego, o que equivale a uma taxa global de 5,8% da população economicamente ativa do planeta.

O número de desempregados ainda permanece em 16 milhões acima do nível pré-pandemia de 2019, revertendo a tendência de queda em 2020 e 2021 do desemprego global. O documento aponta também que o alto desemprego deve implicar em uma diminuição da qualidade das vagas. Segundo o relatório, a escassez de melhores oportunidades forçará muitos trabalhadores a aceitar empregos de menor qualidade, frequentemente mal remunerados, e às vezes com um número reduzido de horas.

Estagflação atinge empregos e produtividade

O relatório aponta como causas para essa estagflação, que ameaça a produtividade e a recuperação do mercado de trabalho, as crescentes tensões geopolíticas no mundo, assim como a guerra na Ucrânia, "Todos estes fatores juntos criaram as condições para a estagflação — uma inflação elevada e um baixo crescimento econômico simultaneamente —, pela primeira vez desde a década de 1970", continua o estudo.

“A desaceleração no crescimento global do emprego significa que não esperamos que as perdas sofridas durante a crise da covid-19 sejam recuperadas antes de 2025”, diz Richard Samans, diretor do Departamento de Pesquisa da OIT e coordenador do relatório.

América Latina, Caribe e Ásia

A situação do desemprego é desigual, tanto entre as camadas da população como nas diferentes regiões do mundo. Na região que inclui o Brasil, a América Latina, assim como o Caribe e a Ásia, é previsto um crescimento pequeno do emprego, da ordem de 1%, com uma estabilidade nos índices de desemprego.

Já na África e nos Estados Árabes o crescimento do emprego será maior, da ordem dos 3% ou mais. Mas com o aumento da sua população em idade ativa, as duas regiões apenas devem registrar uma diminuição pequena nas suas taxas de desempregados, com 7,4% para 7,3% na África e uma redução de 8,5% para 8,2% nos Estados Árabes.

A Europa e a Ásia Central, regiões mais atingidas pelas consequências econômicas do conflito na Ucrânia, prevê-se um declínio do emprego em 2023, mas com uma redução do crescimento da população em idade ativa. Os índices de desemprego podem oscilar em um crescimento pequeno, dentro de uma margem de estabilidade. Já no cenário de estabilidade do emprego na América do Norte, em 2023, deve acontecer um aumento mais sensível na taxa de desemprego da região.

Em todas as regiões, o mercado de trabalho para mulheres e jovens é especialmente adverso. Globalmente, a taxa de ocupação das mulheres foi de 47,4% em 2022, contra 72,3% dos homens. A diferença de quase 25 pontos aponta que, para cada homem desempregado, encontramos duas mulheres nessa condição. Entre os jovens entre 15 e 24 anos, a taxa de desemprego é três vezes superior à da população adulta.

CORREIO BRAZILIENSE

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