As causas e consequências da inserção desigual de homens e mulheres no mercado de trabalho têm sido tema recorrente de estudos internacionais recentes que chegam a conclusões semelhantes às de Ribeiro. Embora a diferença salarial por sexo tenha diminuído em alguns países, incluindo o Brasil, ela persiste desde a estreia na vida profissional e se amplia à medida que as pessoas envelhecem. Medir o tamanho da discriminação não é trivial -e o tema às vezes gera polêmica-, mas o avanço de técnicas estatísticas tem facilitado as estimativas. CÁLCULO Para calcular a discriminação por gênero em três mil municípios brasileiros, Santos utilizou a Rais (Relação Anual de Informações Sociais), que reúne dados do mercado formal de trabalho. O estatístico chegou a uma estimativa do tamanho do preconceito depois de isolar o impacto de outros fatores que, comprovadamente, influenciam os salários. Ou seja, ele identificou o que restou de diferença entre as remunerações de homens e mulheres depois de descontados os efeitos como escolaridade, ocupação, tempo de empresa, raça e região. Assim se uma mulher ganha menos do que um homem por ter um diploma de ensino superior menos valorizado do que o dele, esse efeito não distorceria os resultados encontrados. Mas há outras questões -como interrupções na carreira causadas por pausas relacionadas à maternidade e qualidade da formação- que não foram quantificadas. Alguns estudos recentes que se dedicam a estimar o impacto desses fatores sobre a desigualdade salarial concluem que, mesmo depois de descontá-lo, ainda sobra uma diferença substancial que provavelmente é causada por discriminação ou o que algumas empresas têm chamado recentemente de "vieses inconscientes". Após mensurar o efeito de sua estimativa para a discriminação sobre os salários em 2007, Santos analisou a relação dessa variável com os movimentos do PIB per capita (valor da riqueza gerada no país dividida pelos habitantes) até 2014. Nessa etapa, também foi descontado o impacto de outras fatores que influenciam o crescimento econômico, como o peso de diferentes setores no PIB ou mudanças no nível médio de escolaridade da mão de obra. Concluiu que a parcela do crescimento do PIB per capita explicada pela desigualdade de gênero é relevante. Os resultados corroboram ainda outros estudos -como um feito por Regina Madalozzo, orientadora de Santos- que indicam que conforme o nível de escolaridade dos profissionais aumenta, a desigualdade salarial entre eles também cresce. Talvez isso ajude a explicar o nível alto de discriminação em municípios mais desenvolvidos. Esse fenômeno tem sido chamado de "efeito do teto de vidro" e sugere a existência de uma barreira invisível que impede a mulher de avançar a partir de certos níveis hierárquicos. Um número crescente de empresas tem reconhecido esse problema. Por outro lado, em municípios de renda baixa, a menor diferença entre remunerações por sexo pode ter mais ligação com a prevalência de ocupações que pagam apenas o salário mínimo do que com menor preconceito contra a mulher. DESISTÊNCIA Laíse diz entender perfeitamente porque a desigualdade entre os sexos tem custos para a sociedade: "Acho que muitas mulheres qualificadas acabam desistindo ou optando por trabalhar informalmente, com mais flexibilidade, porque se dá conta de que não vai chegar lá", diz. Mas a analista se diz otimista com mudanças que vê ocorrendo. Na multinacional onde trabalha atualmente, ela ressalta, há muitas mulheres em cargos de gestão. "Isso motiva quem está em outras posições." Segundo Madalozzo, as conclusões de Santos aprimoram a discussão sobre o tema porque mostram que a economia -o que inclui empresas individualmente- é penalizada pela discriminação. "Se ele encontrasse a relação contrária, de que a discriminação gera crescimento, talvez teríamos de concluir que as empresas podem estar lucrando mais com isso, e assim, reduzindo os custos de sua mão de obra. Mas não é esse o caso".

                    

Fonte: Bem Paraná, 08 de março de 2018