Esta nova Revolução Industrial tende assim a aprofundar a já desigual divisão internacional do trabalho e, consequentemente, as desigualdades internas a cada país.

Sergio Luiz Leite, Serginho*

A Indústria 4.0 ou 4ª Revolução Industrial é um termo que abrange tecnologias de automação e troca de dados a partir de sistemas Ciber-físicos, Internet das Coisas e Computação em Nuvem. Em todos estes sistemas predomina a noção de instantaneidade da troca de informações entre fatores de produção, automatizando as atividades de planejamento da produção e tornando seus processos mais eficientes, autônomos e customizáveis. Estas profundas transformações que se anunciam marcam uma nova era, não apenas para as empresas, mas também para a classe trabalhadora, nos suscitando uma fundamental reflexão sobre o futuro do trabalho e da organização sindical no Brasil e no mundo.

Uma primeira grande transição nas relações de trabalho, pautada pela Indústria 4.0, consiste no chamado home office ou teletrabalho, recentemente regulamentado pela Lei 13.467/17. Sem perdemos de vista o horizonte de precarização do trabalho, a Reforma Trabalhista neste quesito atendeu aos interesses das empresas que intensificam a utilização destas tecnologias e reduzem drasticamente seus custos fixos (aluguel, equipamentos, energia etc.), bem como contemplou uma demanda da juventude que nasceu na era da tecnologia e já atua no mercado de trabalho. Contudo, este cenário impõe uma problemática de difícil solução: Como na prática será feito o controle de jornada? Quais serão os cuidados relativos à saúde e segurança destes teletrabalhadores? Haverá uma tendência do salário por tarefa em oposição ao salário por tempo de trabalho?

Neste contexto, a própria sobrevivência dos sindicatos depende da capacidade de superar as barreiras do diálogo com a juventude, assim como de lhe atribuir protagonismo no seio da estrutura sindical. Da compreensão que esta nova Revolução Industrial se aproxima rapidamente, assim como de seus efeitos, depende a sobrevivência e a capacidade de reorganização do próprio movimento sindical. O desafio colocado às entidades sindicais diante desta nova realidade que avança a passos largos é enorme e a maioria das respostas será encontrada no enfrentamento diário que a luta na defesa dos direitos dos trabalhadores nos impõe.

Especialistas de todas as inclinações discutem os possíveis efeitos da Indústria 4.0 sobre o nível de emprego dos países por ela alcançados, contudo tem se mostrado cada vez mais evidente a tentativa destas empresas de tecnologia intensiva reduzirem seu custo variável com mão de obra. Diferente das Revoluções Industriais anteriores, que extinguiram postos de trabalho de baixa qualificação, a Indústria 4.0 também afeta trabalhadores com alto grau de qualificação quando da utilização das Inteligências Artificiais (AI). Os trabalhadores que em tese serão requeridos por estas novas tecnologias serão justamente aqueles capazes de aprofundá-la, tais como, engenheiros da computação e profissionais afins, sob as quais os países subdesenvolvidos possuem notável defasagem.

Esta nova Revolução Industrial tende assim a aprofundar a já desigual divisão internacional do trabalho e, consequentemente, as desigualdades internas a cada país. Diante deste cenário nos cabe a reflexão: Como deverá agir o movimento sindical? A tarefa imperativa que se apresenta abrange o combate à também engenhosa precarização do trabalho frente ao progresso tecnológico, bem como a aproximação dos trabalhadores cada vez mais individualizados em seu processo produtivo.

Os Acordos Marcos Globais e as Redes Sindicais surgem como uma via de organização sindical nas empresas multinacionais que podem, em alguma medida, contribuir no enfrentamento global dos efeitos colaterais da Indústria 4.0. A Fequimfar tem participado ativamente na constituição de Redes Sindicais em empresas multinacionais, tais como: Bayer, Basf, Du Pont, Faber-Castell, Lanxess, Mosaic, Owen-Illinois, Saint-Gobain, Sanofi-Aventis, Yara, Takeda, dentre outras. Como exemplo, a Rede Sindical dos trabalhadores da Faber-Castell (Brasil e Alemanha) avançou na realização de uma auditoria social na empresa a cada dois anos.

Ainda para contribuir no desenvolvimento e construção de diretrizes para este desafio, temos dialogado com dirigentes sindicais de outros países, junto à IndustriALL e IGBCE da Alemanha, por exemplo, onde a realidade da Indústria 4.0 já se faz presente. No fim deste ano, os Químicos da Força também participarão de um encontro internacional, promovido pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), que vai debater o tema com representantes de vários setores industriais. Levaremos nossas experiências e pretendemos, cada vez mais, estar fortalecidos para elaborar propostas e ações que incidam sobre os impactos da Indústria 4.0 na classe trabalhadora.

(*) Presidente da Fequimfar, 1º secretário da Força Sindical e vice-presidente do setor químico da IndustriALL

Fonte: Diap, 13 de julho de 2018.