Em entrevista ao Portal Vermelho o dirigente metalúrgico Sérgio Nobre afirmou que em décadas atuando como sindicalista nunca viu um cenário de devastação de direitos como o Brasil vive nos dias de hoje. “A gente acorda todo dia é um pesadelo. Até empresário comenta que não era isso que tinha que ser feito. A proteção social virou crime no Brasil mas é nas grandes tragédias que a classe trabalhadora dá um salto”, declarou.

Por Railídia Carvalho

CUT
Sérgio Nobre: "Querem manter os salários desvalorizados às custas de 30 milhões de subocupados”
Sérgio Nobre: "Querem manter os salários desvalorizados às custas de 30 milhões de subocupados”
Sérgio é secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e vê na organização do trabalhador o caminho para superar a falta de esperança. “Precisamos nos organizar nas centrais, nos sindicatos. Caiu a ficha que é preciso investir na comunicação. Quem não tinha jornal passou a ter. Quem tinha mensal passou a ser semanal. Quem tinha semanal passou a ser diário. É preciso dar mais atenção à representatividade e estar mais próximo da classe trabalhadora”, enumerou o dirigente.

Ele reiterou que o aprofundamento da crise, a retirada de direitos, a privatização de empresas públicas comprovam que o golpe que levou Michel Temer à presidência não era contra a presidenta eleita Dilma Rousseff ou contra o PT. “A CUT alertou que era um golpe contra o povo brasileiro, contra os trabalhadores. Tomaram de assalto o poder e destruíram tudo o que construímos. Desmontaram as políticas públicas dizendo que não cabem no orçamento federal”, argumentou Sérgio.

Desmonte das políticas sociais e trabalhistas

No final de 2016, Michel Temer e aliados no Congresso aprovaram a Proposta de Emenda Constitucional que aprovou por 20 anos o congelamento dos gastos públicos primários, com impacto negativo especialmente em saúde e educação. Em julho do ano passado, Michel Temer conseguiu aprovar a reforma trabalhista que beneficiou empregadores e fragilizou trabalhadores. Os números do desemprego reforçam que a reforma, ao contrário do que afirmou Temer, aprofundou a crise.   

“A aprovação da reforma trabalhista e da terceirização desmontam a legislação porque eles não querem os sindicatos. Eles querem pagar o que quiser, impor a jornada que quiserem. A visão deles é que os sindicatos atrapalham e para isso acabaram com a fonte de financiamento do movimento sindical e desestruturaram a legislação trabalhista”, avaliou o secretário-geral da CUT. 

Ele afirmou que é criminosa a forma como o atual governo congelou o orçamento. Ao lado do desmonte das políticas públicas, o ajuste fiscal a última potência tem penalizado os mais pobres. “Em todas as capitais você vê famílias inteiras nas ruas, coisa que não se via há muito tempo. Se há época do golpe os trabalhadores não tiveram a compreensão, hoje estão vendo o que acontece no país. Em cada lar tem um desempregado ou mais de um. A população está sentindo isso. A hora é de lutar”. 

10 de agosto: Basta de desemprego

A luta tem dia e hora marcados. Em 10 de agosto as centrais sindicais brasileiras unificadas realizarão o Dia do Basta com paralisações nacionais e ato público em frente à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Eles (Fiesp) com a Confederação Nacional da Indústria lideraram o golpe contra o trabalhador. Vamos lá dar um recado a eles de que esse Brasil não é o que queremos. Queremos um Brasil para todos”, afirmou Sérgio.

Na opinião dele, o Dia do Basta, que tem como um das bandeiras a luta contra o desemprego, também pode servir para aglutinar diversas bandeiras como a luta pela moradia, pelos direitos das mulheres, por reforma agrária, por saúde. "É um dia do povo, da classe trabalhadora, do trabalhador empregado, daquele que está sem emprego, da dona de casa”, convocou o sindicalista. 

Sérgio também reforçou a importância da massificação das propostas que estão na Agenda Prioritária da Classe trabalhadora, documento em que as centrais sindicais enumeram 22 propostas apontando saídas para a crise e pela retomada do desenvolvimento a partir da valorização do trabalho e geração de empregos.

“O desemprego é um flagelo total. Se o trabalhador não consegue levar comida para dentro de casa é o desespero total. As centrais defendem a geração imediata de pelo menos 10 milhões de empregos emergenciais. Para isso é preciso retomar as grandes obras de infraestrutura. São centenas na construção civil, setor que gera muito emprego e poderia zerar as estatísticas de 28 milhões de desempregados. Querem manter os salários desvalorizados às custas de 30 milhões de subocupados”, concluiu.
Fonte: Vermelho, 19 de julho de 2018.