Chico MarésLeandro Resende
SÃO PAULO

Desde que foi eleito presidente, Jair Bolsonaro (PSL) voltou atrás em algumas decisões referentes à estrutura de seu governo.

"[Trabalho] Vai continuar com status de ministério"

Entrevista em 13.nov.18

CONTRADITÓRIO No dia 7 de novembro, após participar de um almoço com o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Bolsonaro afirmou, em entrevista, que o Trabalho seria "incorporado a algum ministério" --mas não deu detalhes sobre à qual pasta se referia. Seis dias depois, na última terça (13), o presidente eleito voltou atrás. "O Ministério do Trabalho vai continuar com status de ministério, não vai ser secretaria. Vai ser 'Ministério Disso, Disso e do Trabalho'", afirmou. Procurado, não respondeu.

"A princípio, [o ensino superior] vai ser mantido no Ministério da Educação mesmo"

Entrevista em 13.nov.18

CONTRADITÓRIO No dia 1º de novembro, quatro dias depois de ser eleito, Bolsonaro disse que o ensino superior seria responsabilidade do Ministério de Ciência e Tecnologia. No mesmo dia, ele confirmou o astronauta Marcos Pontes como titular da pasta.

Segundo o presidente eleito, a mudança na gestão do ensino superior daria um "gás muito especial" para as universidades brasileiras. Na última terça (13), pouco antes de um encontro no Tribunal Superior do Trabalho (TST), Bolsonaro recuou e afirmou que deve manter a gestão das universidades federais sob a responsabilidade do Ministério da Educação. Procurado, não respondeu.

"Comunico a todos a indicação do general-de-Exército Fernando Azevedo e Silva para o cargo de ministro da Defesa"

Twitter em 11.nov.18

CONTRADITÓRIO Aliado de primeira hora de Bolsonaro, o general Augusto Heleno chegou a ser anunciado, ainda durante a disputa do segundo turno, como futuro ministro da Defesa. Após a eleição de Bolsonaro, em entrevista, Heleno detalhou seus planos para a pasta.

Mas na última terça (13), o presidente eleito anunciou outro general para comandar o ministério. No dia 7 de novembro, o próprio general Heleno havia sinalizado o recuo, ao afirmar que assumiria o Gabinete de Segurança Institucional (GSI). "O presidente escolheu", disse em evento no Comando da Aeronáutica. Procurado, não respondeu.

"Não deve existir ministério com esse nome [Ministério da Família]"

A jornalistas em 7.nov.18

CONTRADITÓRIO A declaração de que não deverá ser criado um Ministério da Família foi dada um dia depois de Bolsonaro dizer que era "possível" que o senador Magno Malta (PR-ES) assumisse a pasta, que seria criada para gerenciar os programas sociais do governo. Ontem, o ministro extraordinário da transição de governo, Onyx Lorenzoni, afirmou que estes temas ficarão a cargo do Ministério da Cidadania. Malta é um dos aliados mais próximos de Bolsonaro --chegou a ser cotado como vice em sua chapa, mas preferiu disputar a reeleição para o Senado, acabou derrotado. Procurado, não respondeu.

"Pelo que está parecendo, vão ficar distintos [os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente]"

Entrevista em 1º.nov.18

CONTRADITÓRIO Promessade campanha, a unificação dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente ficou pelo caminho. A proposta estava em consonância com o interesse da bancada ruralista, mas, segundo o presidente eleito, "os próprios ruralistas acharam que não era o caso, para evitar pressões internacionais entre outras coisas". Assim, no dia 1º de novembro, Bolsonaro afirmou que manteria as duas pastas. Dois dias antes, Onyx Lorenzoni havia insistido na unificação. "Ninguém recuou nada. A questão da agricultura, alimentação e meio ambiente é uma decisão desde os primeiros passos do plano de governo", disse Lorenzoni. Bolsonaro já anunciou a deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS) como ministra da Agricultura. Procurado, não respondeu.

"Acho que seria prematuro um país anunciar uma retaliação sobre uma coisa que não está decidida ainda [a mudança da Embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém"

Entrevista em 6.nov.18

CONTRADITÓRIO No dia 1º de novembro, Bolsonaro indicou, em entrevista ao jornal israelense Israel Hayom, que transferiria para Jerusalém a embaixada brasileira em Israel --que hoje fica em Tel Aviv. No mesmo dia, disse no Twitter: "Como afirmado durante a campanha, pretendemos transferir a Embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém. Israel é um Estado soberano e nós o respeitamos". Em dezembro de 2017, os Estados Unidos reconheceram Jerusalém como a capital de Israel e informaram que mudariam para lá sua embaixada. Apesar de Israel defender que Jerusalém é sua capital, a cidade também é reivindicada como capital pelos palestinos e não há consenso sobre a situação na ONU.

A declaração de Bolsonaro gerou reação negativa no Oriente Médio —o Egito chegou a cancelar uma visita do ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira. Em 6 de novembro, o presidente eleito negou o atrito e disse que a mudança "não estava decidida ainda". Procurado, não respondeu.

Fonte: Folha