Por Samy Dana, G1
Os autores Sendhil Mullainatha e Eldar Shafir no livro “Escassez: uma nova forma de pensar a falta de recursos”, é que a pobreza torna mais difícil para os pobres decidir sobre saúde, nutrição e investimentos, entre outras opções importantes para o futuro.
Se falta dinheiro, comida, saúde ou bem-estar, existe a necessidade de priorizar o problema e o foco passa a ser quase só aquilo que está faltando. Um experimento da Universidade de Minnesota durante a Segunda Guerra Mundial, citado no livro, demonstra como mesmo as pessoas mais prósperas, privadas de algo, se tornam obcecadas.
Os voluntários, quase todos do meio universitário, ingeriram por um mês uma quantidade bem menor de calorias como parte de um estudo. Os cientistas queriam saber como se deveria alimentar as vítimas do conflito na Europa que passaram por uma severa desnutrição.
Monitorados o tempo todo, para surpresa dos responsáveis pelo projeto, os participantes relataram que se tornaram incapazes de pensar em algo que não fosse comer. Mesmo intelectuais e professores trocaram os livros que costumavam ler por livros de receitas.
Se, por exemplo, alguém ia ao cinema, a cena de que mais se lembrava do filme não era de amor, era uma cena com comida. Alguns participantes estiveram mesmo a ponto de abandonar o projeto devido ao transtorno psicológico.
Como estavam focados na escassez, era muito mais difícil para eles dar atenção a outros aspectos da vida. Com as pessoas mais pobres na sociedade, ocorre algo parecido. como continuar os estudos ou poupar para a aposentadoria
Lidar com a escassez de algo tem um benefício: nos tornamos melhores em administrar as necessidades mais urgentes. E isso vale para outros contextos. Alguém que procrastina em um trabalho, por exemplo, acaba se tornando mais produtivo conforme se aproxima o fim do prazo. A escassez de tempo o leva a se focar e resolver o problema.
Mas há um custo: nos tornamos menos eficientes em relação ao resto da nossa vida. Ao darmos muita atenção a algo, negligenciamos outros aspectos. A infeliz consequência, no caso dos pobres, é que se perpetua a pobreza.
Para reverter essa situação, a solução, segundo os pesquisadores, é redesenhar programas de assistência e de educação voltados para os mais pobres. Programas de requalificação, por exemplo, poderiam ser oferecidos em módulos, permitindo que alguém que falte uma ou mais aulas não desista. Alguns
Isso não é dizer que a cultura, as forças econômicas e a personalidade não importam. Importam, claro. Mas a escassez tem sua própria lógica, que opera acima dessas forças.
Fonte: G1