No último dia 10 de dezembro, Michel Temer disse em entrevista à Globonews que se reuniu com lideranças do bloco BRICs na Argentina e tentou “tranquilizá-los” em relação à política externa do futuro governo de Jair Bolsonaro. A conversa fiada de Temer não durou uma semana. Nos últimos dias, vieram à tona opiniões desastrosas do futuro chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, que deram motivos de sobra para que os parceiros do Brasil no BRICs já comecem a pensar no Bloco sem a presença brasileira.

Moises
 Brasil é, hoje, a economia mais frágil dos BRICs Brasil é, hoje, a economia mais frágil dos BRICs
Além do Brasil, o grupo reúne Rússia, Índia, China e África do Sul. Os líderes do BRICs se reuniram no mês passado na Argentina, durante a cúpula do G20 (que reúne as 20 principais economias do mundo).

Segundo Temer, ele foi questionado por líderes do BRICs sobre como Bolsonaro pretende lidar com a política econômica e com a política externa. "Eu os tranquilizei [líderes do BRICs] pautado pela ideia de conversa que eu tive com o presidente eleito Bolsonaro. Verifiquei que uma coisa, na verdade, era a campanha eleitoral. Outra coisa é o exercício da Presidência, do governo. Eu disse: 'Olha, a primeira coisa que eu posso lhes dizer é que eu creio que, no panorama econômico, não haverá modificações'", afirmou Temer na entrevista à Globonews.

A “promessa” de Temer aos parceiros do BRICs de que nada mudaria, sobretudo em relação à política comercial com outros países, revelou-se uma falácia. Nos últimos dias vieram à tona posicionamentos do futuro chanceler, Ernesto Araújo, que questionam frontalmente as relações do Brasil com os demais países do BRICs, particularmente com a China, maior parceiro comercial do Brasil e segunda maior economia do mundo.

Reportagem da jornalista Thais Bilenki no jornal Folha de S.Paulo neste domingo (16) revela que Araújo fez chegar ao núcleo da campanha em setembro um artigo intitulado "Por uma política externa do povo brasileiro", no qual ataca, com argumentos quase infantis e contaminados pelos mais rasos preconceitos ideológicos, a política pacifista do Brasil e propõe alinhamento automático com o imperialismo estadunidense e outras forças da direita, como os atuais governos da Itália, Polônia e Hungria.

Uma das proposições já foi transformada em decisão, a ser concretizada após a posse do novo governo: a saída do Brasil do Pacto Mundial para Migração.

A proposta de Ernesto Araújo que poderá ter maior impacto geopolítico e na economia internacional é a de que o Brasil questione os BRICs e tente substituí-lo por um "BRICs antiglobalista sem a China".

Ernesto Araújo mostra-se disposto a tornar o Brasil uma esPécie de soldado raso da guerra estadunidense contra a China. No texto, afirma que pretende impor ao principal parceiro comercial do Brasil "pressão em todas as frentes".

O futuro chanceler propõe "utilizar os organismos financeiros internacionais para frear a crescente dependência dos países em desenvolvimento em relação ao capital chinês. Virar o jogo da globalização contra a China."

O governo chinês já chegou a pedir a Bolsonaro em editorial recente para não agir como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que decidiu sobretaxar os produtos chineses, criando uma guerra comercial entre os dois países.

Nova composição dos BRICs

Para um dos mais influentes analistas de política externa da atualidade, o jornalista Pepe Escobar, com a ascensão de Michel Temer e o abandono por parte do governo brasileiro das políticas do BRICs, Pequim e Moscou “já veem a cúpula sem a participação do Brasil”. “Pelo menos até a alternância de poder dessa coisa abstrusa que ingressou ao poder agora”, afirma o jornalista, referindo-se a Bolsonaro. A declaração foi dada em entrevista à TV 247.

Pepe Escobar relata que durante a cúpula do G-20, ocorrida em Buenos Aires, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez uma conversa trilateral com a China e Índia, propondo a expansão e fortalecimento do BRICs.

"Foi uma ideia brilhante de Putin. Ele propôs anexar à cúpula países como a Coréia do Sul, Indonésia e Turquia. No futuro o Irã também poderá ser anexado", projeta.


 Da redação, com informações da Folha de S.Paulo e Brasil247