Manifestantes entraram em confronto com a polícia em Paris; governo pede fim dos atos

Manifestantes participam de um novo ato dos "coletes amarelos" na avenida Champs-Elysées, em Paris - Lucas Barioulet/AFP

PARIS

Manifestantes voltaram às ruas de Paris e de outras cidades francesas neste sábado (5) para a oitava rodada dos protestos liderados pelos "coletes amarelos" contra o presidente Emmanuel Macron, na primeira grande mobilização de 2019 no país.

O governo criticou a convocação de novos atos, que classificou de insurreição, e disse que chegou o momento do país voltar à ordem.

Em todo o país, as manifestações tiveram gritos de "fora Macron" e "fim da injustiça tributária" e, na capital, houve confronto entre parte dos manifestantes e forças de segurança. Não foram divulgados, porém, o número de feridos ou de detidos.    

Manifestantes também protestam contra a prisão de Eric Drouet, um dos líderes dos coletes amarelos" —que recebem o nome por usar a vestimenta, um item obrigatório de segurança nos carros do país— detido na noite da última quarta (2) por organizar um ato sem autorização em Paris.   

O movimento dos "coletes amarelos", que começou protestando contra o aumento de combustível proposto pelo Executivo e que acabou ampliando as reivindicações e transformando Macron em alvo, luta para se manter relevante, após ver seus atos perderem força no fim de 2018. 

Na última manifestação, em 29 de dezembro, havia 12 mil manifestantes em todo o país, segundo o Ministério do Interior. Em 22 de dezembro foram contabilizados 38.600 e em 17 de novembro 282.000. Cerca de 1.500 pessoas, segundo a agência AFP, participaram de uma concentração na avenida Champs-Elysées, em Paris. 

Depois, o grupo ganhou novos integrantes, chegando a 4.000, e partiu em marcha primeiro para a frente da sede da Prefeitura e, depois, para a Assembleia Nacional. 

Esta é a primeira mobilização de 2019, apesar das concessões do Executivo, que se prepara para debater as reivindicações do movimento em meados de janeiro.

"Hoje estou aqui para defender o direito dos meus filhos. Minha filha ganha 800 euros por mês, ela trabalha em uma padaria, 25 horas por semana", declarou Ghislaine, de 58 anos, que participava do ato na capital. 

Em Marselha (no sudeste do país), cerca de 500 "coletes amarelos" marcharam no centro da cidade, enquanto entre 1.000 a 2.000 pessoas se reuniram em Caen (noroeste). Em Saint-Nazaire (oeste), cerca de 150 bloquearam a ponte de Saint-Nazaire.

A situação ficou mais tensa em Beauvais (norte), onde a polícia disparou bombas de gás lacrimogêneo para impedir que cerca de 600 "coletes amarelos" entrassem na cidade depois de tentar bloquear o aeroporto.

mbém ocorrem manifestações em outros pontos do país, incluindo em Lyon (com cerca de cem pessoas), Grenoble (300 participantes) e Rouen (1.000 manifestantes).  

Um dos grupos que representam os coletes amarelos, o "França em cólera", divulgou uma carta aberta na quinta (3) endereçada a Macron que convocava para os novos portestos. "A raiva vai se transformar em ódio se você continuar no seu pedestal, você e aqueles como você, que consideram o povo mendigos, desdentados, como se as pessoas não valessem nada", diz a nota sobre o mandatário. 

Em resposta à carta, o governo decidiu endurecer o tom contra os manifestantes. "[O movimento], para aqueles que continuam mobilizados, tornou-se um ato de agitadores que querem insurreição e, no fundo, derrubar o governo", disse o porta-voz do governo, Benjamin Griveaux, na sexta (4). 

O ministro do Interior, Christophe Castaner, pediu que os prefeitos esvaziem as regiões onde ocorram os protestos, fechando comércio e ruas, e usem a força se necessário, em especial quando ocorrem concentrações em estradas.

Para evitar confrontos, o grupo "França em cólera" sugeriu inclusive que os manifestantes retirem os coletes amarelos nos atos deste sábado —a maior parte dos participantes, porém, segue usando o item.  

Desde o início dos protestos movimento, mais de 1.500 manifestantes ficaram feridas, 53 deles em estado grave, além de 1.100 agentes das forças de segurança.

AFP
Folha de S.Paulo