Funcionários com baixa remuneração e expostos ao coronavírus se articulam por reconhecimento e mais segurança

"Trate seus funcionários como trata seus clientes", pede trabalhador da Amazon.

O trabalho de Daniel Steinbrook na Whole Foods mudou completamente desde o início da pandemia nos Estados Unidos. Sua loja é toda sem ventilação. Muitos clientes chegam usando máscaras. O funcionário, que trabalha em Cambridge, Massachusetts, ainda não recebeu nenhuma máscara de seu empregador e foi advertido para não usar cachecol sobre o rosto para se proteger. “É muito estressante”, ele diz. “E o stress aumenta ao passo em que a pandemia avança”.

No dia 31 de março, Steinbrook e outros funcionários da Whole Foods entraram em greve, por conta da falta de equipamento de proteção tanto para os empregados quanto para os clientes. Foi a primeira paralisação em nível nacional da empresa.

Esse é um dos grupos que entrou em greve nos Estados Unidos durante as últimas semanas. Funcionários de armazéns da Amazon cruzaram os braços em Detroit, Chicago e Nova York por melhoria de salários e de condições de segurança. Trabalhadores de lanchonetes como McDonald’s, Burger King, KFC, Checkers e Domino’s também pararam suas atividades na Flórida, Califórnia, Missouri, Carolina do Norte e no Tennessee.   

Esses movimentos afetaram também empresas que nunca haviam lidado com greves anteriormente, como Family Dolar, Food Lion e postos de gasolina da Shell. Funcionários de lojas de departamento aderiram em algumas cidades, assim como trabalhadores da construção civil, motoristas de ônibus e avicultores.

As apostas são altas, já que muitas dessas categorias são essenciais para que determinados serviços continuem em funcionamento durante a pandemia. Steinbrook, citado no primeiro parágrafo, afirma que foi a primeira vez que participou de um movimento como esse. “Em geral, eu não me envolvo nesse tipo de situação. Normalmente eu me calo e faço meu trabalho”, diz. Ele crê que, sem pressão, nenhuma empresa irá atender algumas das demandas, seja por melhores salários ou por mais segurança no trabalho.

Movimento crescente

O sentimento de injustiça aflorado durante a pandemia não é novo nos EUA, de acordo com Nelson Lichtenstein, professor de História da Universidade de Santa Barbara, na Califórnia. Para ele, trata-se de um período fértil para o fortalecimento do ativismo trabalhista. O ano de 2018 registrou o maior número de greves no país desde 1986. Em 2019, professores, enfermeiros e motoristas de aplicativos como Uber também fizeram protestos grandiosos.

“Não é coincidência a rápida resposta desses trabalhadores durante a pandemia. Tivemos uma década na qual essas ideias estão circulando pela sociedade”, afirma. “E não se trata apenas de más condições de trabalho, mas sim de más condições de vida, de existência”, argumenta o acadêmico. Há um outro ponto que favorece a ação dos trabalhadores: as companhias que estão em pleno funcionamento durante a pandemia adquiriram uma importância mais relevante. “Pode-se obter uma boa vantagem por conta disso” defende Lichtenstein.

Tradução e edição: Fernando Damasceno