Por Lucianne Carneiro, Valor — Rio

O resultado de abril da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) mostra uma primeira sinalização positiva do mercado de trabalho que, no entanto, permanece fragilizado. A avaliação é do pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) Rodolpho Tobler, que cita a manutenção da população ocupada e a estabilidade da taxa de desemprego como exemplos da melhor reação do mercado neste momento do que na primeira fase da pandemia.

“Os dados de abril ainda trazem informações de fevereiro e março. E o que se vê é que a segunda onda de covid-19 não foi tão negativa para o mercado de trabalho do que a primeira. Só o fato de não ter tido queda na ocupação já é uma primeira sinalização positiva, embora ainda muito tímida”, diz o economista.

A população ocupada ficou em 85,9 milhões no trimestre móvel encerrado em abril de 2021, o que representa estabilidade estatística frente ao trimestre móvel imediatamente anterior (concluído em janeiro), apesar de um recuo de 85 mil vagas. No trimestre encerrado em março, a população ocupada tinha ficado em 85,7 milhões de pessoas. Já a taxa de desemprego se manteve no nível recorde de 14,7% no trimestre encerrado em abril, patamar que já tinha sido atingido em março.

Este movimento, no entanto, reforça Tobler, é muito marcado pela influência do mercado formal e especialmente pelos trabalhadores por conta própria. O contingente deste grupo avançou 2,3% no trimestre encerrado em abril, frente ao trimestre imediatamente anterior (encerrado em janeiro), para 24,040 milhões, uma diferença de 537 mil pessoas. Na comparação com igual trimestre de 2020, a alta foi de 2,8%, após quatro recuos seguidos.

“Veremos uma recuperação mais gradual do mercado, muito mais pela informalidade, que tem menos produtividade e rendimentos mais baixos. O trabalho por conta própria, por exemplo, não depende de abertura de vagas, mas de uma iniciativa individual, muito puxada pela necessidade”, explica Tobler.

Pelos próximos meses, reforça ele, a taxa de desemprego vai se manter em patamar elevado e o mercado de trabalho fragilizado, a despeito da perspectiva de melhora no cenário por causa do avanço da vacinação. Ele lembra que haverá um movimento simultâneo de retorno à busca por vagas daqueles que tinham deixado a força de trabalho.

“A gente sabe que a taxa de desemprego vai continuar pressionada. Mesmo que se espere mais geração de vagas. À medida que mais trabalhadores vão conseguindo se recolocar, mais gente vai voltar a buscar trabalho”, diz. A perspectiva de melhora, no entanto, alerta ele, ainda tem riscos, atrelados à evolução da pandemia no país.

Fonte: Valor Investe

https://valorinveste.globo.com/mercados/brasil-e-politica/noticia/2021/06/30/mercado-de-trabalho-segue-fragilizado-diz-fgv-ibre.ghtml