A indústria engloba a construção civil e a produção e distribuição de energia e gás
Por Marsílea Gombata, Valor — São Paulo
A desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria deve continuar nos próximos trimestres. Isso porque, além da falta de insumos, o setor deve sofrer com desaceleração da demanda e possível racionamento de energia, afirma Silvia Matos, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
Dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o PIB da indústria teve retração de 0,2% no segundo trimestre ante o primeiro, feito o ajuste sazonal. No primeiro trimestre, o setor havia crescido 0,7%.
No PIB, a indústria engloba, além do setor manufatureiro e extrativo, a construção civil e a produção e distribuição de energia e gás. Em comparação ao segundo trimestre de 2020, o PIB industrial cresceu 17,8%.
“A indústria já parou de crescer e vai continuar desacelerando. Não é um cenário bom. O setor vive um verdadeiro inferno astral”, afirma Silvia, ao citar a falta de insumos, crise energética, possível desaceleração da demanda externa e provável mudança do foco do consumo das famílias de indústria para serviços. “A oferta de vários suprimentos não vai se normalizar tão cedo. Alguns componentes como chips dependem da normalização das cadeias da Ásia, que sofre com a variante delta do coronavírus. Dificilmente conseguiremos uma normalização igualitária.”
Ela argumenta ainda que o risco de racionamento de energia elétrica é uma pressão adicional para o setor. “É um insumo básico de produção. Um possível racionamento afeta todo o setor produtivo. A indústria é intensiva em energia e, muitas vezes, não há espaço para reduzir o consumo”, afirma.
A economista ressalta que, dada a herança estatística, o desempenho da indústria deveria ser maior do que o visto nos últimos trimestres.
“O carregamento estatísticos do PIB da indústria de transformação é de 8,5%. Ou seja, se mantivesse o patamar do fim de 2020, sem crescimento zero em todos os trimestres, deveria crescer 8,5% neste ano. No entanto, a projeção que temos para o ano é de crescimento de 5,9%”, diz. “Isso sem racionamento. Se houver racionamento e empresas tiveram de parar a produção, os impactos podem ser devastadores.”
Conteúdo originalmente publicado pelo Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor Econômico