Enquanto Jair Bolsonaro procura um partido para disputar a reeleição, Lula avança nas conversas com as legendas partidárias das quais espera receber apoio. Segundo um bem informado petista, é pequena a possibilidade de alguma agremiação de centro ou de direita formalizar uma aliança com o PT no primeiro turno.

Há boas expectativas, porém, para o segundo turno, sobretudo em relação ao PSD de Gilberto Kassab e ao PL de Valdemar Costa Neto. Espera-se ainda o engajamento de uma parte do MDB, daquele jeito típico do MDB. Parte dos emedebistas já começa a se agrupar em torno de Lula; parte está colada em Bolsonaro; e parte ainda trabalha pela terceira via ou por uma candidatura própria.

Na esquerda, um fato importante a favor do PT foi a decisão do Psol de não lançar candidato a presidente com o objetivo de viabilizar uma frente de esquerda que permita vencer Bolsonaro. “O Psol tem como prioridade a derrota da extrema-direita”, diz a resolução apoiada por quase 57% dos 402 delegados que participaram do 7º Congresso Nacional do Psol, no último dia 25 (veja a íntegra da resolução). Essa frente, claro, se daria em torno de Lula.

“Candidatura própria não está descartada”, disse ao blog o presidente do partido, Juliano Medeiros. “Mas temos agora uma decisão tomada, que é de trabalhar pela unidade da esquerda. Defendi a resolução aprovada no congresso e agora vamos nos esforçar para colocá-la em prática”. Na prática, adiar a decisão sobre candidatura própria contribui para enfraquecer a ideia, que voltará à discussão em uma conferência eleitoral a ser realizada no primeiro semestre do ano que vem, em data a ser definida.

Juliano entende que, no que se refere à conquista de cargos eletivos, a prioridade do Psol deve ser a ampliação das bancadas de deputados estaduais e federais. No último caso, está em questão o cumprimento da chamada cláusula de barreira. Para receber os recursos do fundo partidário e ter acesso à propaganda no rádio e na TV, cada partido precisará ter no mínimo 2% dos votos válidos para a Câmara dos Deputados em todo o país, com pelo menos 1% em nove estados.

A cláusula de barreira não assusta o PSB, um partido que governa três estados (Pernambuco, Espírito Santo e Maranhão) e há mais de 20 anos supera o índice de 5% dos votos válidos para a Câmara. Mas ali é maior a resistência à aliança com os petistas. “É muito difícil num partido político ter uma visão unânime”, minimiza o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, em conversa com o blog. Ele também fala sobre uma eventual aliança com o PDT de Ciro Gomes: “Ciro é um ótimo candidato. Tem um pensamento muito próximo ao do PSB, mas a tendência que vemos é de polarização, ainda que não saibamos se isso vai mudar ou não. Se não houver apoio a Lula, teremos de estudar depois o que fazer”.

Para ir de Lula em 22, o PSB cobra o apoio aos seus prováveis candidatos aos governos de São Paulo, Márcio França; do Rio Grande do Sul, Beto Albuquerque; do Rio de Janeiro, Marcelo Freixo; do Espírito Santo, Renato Casagrande; de Pernambuco, o ex-prefeito do Recife Geraldo Júlio; e do Acre, o atual deputado estadual Janilson Leite.

O entendimento parece relativamente tranquilo em relação ao Rio, ao Espírito Santo e a Pernambuco. Mesmo, no caso do Acre, onde o petismo é forte, “as forças políticas locais já estão conversando e vão resolver”, diz uma fonte petista. A coisa pega com França e Beto, dois políticos que fazem conhecidas restrições ao PT e são de estados onde o petismo tem nomes competitivos.

“Não se trata de questão eleitoral apenas”, prossegue Siqueira. “Queremos ser ouvidos e influir na elaboração do programa. É preciso pensar, por exemplo, em um sistema econômico que permita implantar as políticas sociais necessárias nas diversas áreas, como saúde e educação. O PT deve fazer a escolha dele. Se quer fazer uma aliança, tem que levar em conta os aliados”.

Um outro possível aliado de Lula é o PCdoB. Mas aí também tem problema pela frente. Para não ser dragado pela cláusula de barreira, o PCdoB quer formar uma federação partidária. Isso impõe a necessidade de os partidos “federados” formarem chapa eleitoral conjunta para todos os cargos, estabelecerem controle comum das finanças partidárias, compartilharem propaganda, ou seja, praticamente funcionarem como se fossem uma só agremiação.