Presidente voltou a criticar aqueles que desaprovam os gastos com o programa pelo seu alto custo e índice de inadimplência e defendeu que o Estado precisa dar 'voto de confiança' aos estudantes

Por Renan Truffi, Valor — Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quinta-feira (19) que seu governo vai voltar a investir no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), programa que foi criado em 1999 pelo Ministério da Educação (MEC) com o objetivo de subsidiar as mensalidades em universidades privadas. Lula lembrou que o programa é criticado pelo seu alto custo e índice de inadimplência, mas defendeu que o governo precisa "dar um voto de confiança" para os estudantes.

"Precisamos voltar a reconstruir este país e a única razão que voltei à Presidência é porque acredito que podemos fazer isso. A gente precisa provar ao mundo que este país não nasceu para ser eternamente um país em desenvolvimento. Reclamam que o Fies custa R$ 5 bilhões, não tem problema. '[O estudante] vai dar o cano, não vai pagar'. É muito pequeno isso, é não dar chance de um jovem pagar [o financiamento do Fies]", disse. "Quem vai financiar o Fies é o Estado brasileiro; nós vamos dar um voto de confiança na nossa juventude. Nós não podemos melhorar só a quantidade de acesso [à universidade], mas também a qualidade". complementou.

A afirmação foi feita no encerramento do encontro no Palácio do Planalto entre Lula e reitores de universidades e institutos federais de todo o País. O presidente argumentou também que o Brasil tem milhões de pessoas "de elite" que estão com dívidas de impostos junto à União e, por isso, o governo não pode se importar apenas com as pendências financeiras de estudantes que estão começando a carreira profissional. "O Brasil tem milhões de pessoas que sonegam impostos, gente de elite, e eu vou me incomodar com a dívida de um estudante? Eu tenho certeza que o jovem que arrumar emprego vai cumprir com o compromisso de pagar sua dívida", ponderou.

Em seguida, Lula criticou a elite por nunca ter propiciado acesso à educação para os mais pobres e para os negros. "A elite brasileira nunca se importou com a educação do povo porque é um povo negro. Eles pensavam que essas pessoas não precisavam estudar, que a maioria do povo só nasceu pra trabalhar. O que as pessoas pobres precisam é de chance e o governo só precisa criar oportunidades. Tudo é desigual no Brasil, uns podem tudo e a grande maioria não pode nada. Alguns conseguem juntar bilhões e outros não conseguem tostões", afirmou.

Por fim, o presidente disse que a fome no Brasil não é um fenômeno da natureza. "A gente produz alimentos. O que falta é dinheiro para as pessoas poderem comprar, é qualificar a pequena e média propriedade", disse. O presidente também tinha discurso no início da reunião com os reitores, quando afirmou que o Brasil está "saindo das trevas" e indo em direção à "luminosidade" de um novo tempo.

"Eu tenho orgulho de ter vivido o momento em que a gente mais acreditou na educação, momento em que a gente mais investiu na educação, nas universidades e nos institutos federais. Nós estamos começando um novo momento. Sei do obscurantismo que vocês viveram nos últimos quatro anos, então quero dizer que estamos saindo das trevas para a luminosidade de um novo tempo", disse o presidente.

Também participam da reunião o ministro da Casa Civil, Rui Costa, da Secretaria Geral da Presidência, Márcio Macêdo, e da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos. Apesar de o discurso de Lula ter sido transmitido pela TV Brasil, a reunião aconteceu de forma fechada para a imprensa.

Este conteúdo foi publicado pelo Valor PRO, serviço de tempo real do Valor Econômico.

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