Em pesquisa sobre satisfação no trabalho, mais de 70% dos profissionais brasileiros afirmam que buscam ser reconhecidos no mercado.

Roberto Custódio
Roberto Custódio -
"Meu papel é incentivar que cada vez mais as metas sejam atingidas e
também ensinar, apoiar, escutar", diz Tiago Oliveira, gerente na área de automação industrial

                      

Sentir-se valorizado e trabalhar motivado. Essa não é a realidade da maioria dos brasileiros. De acordo com a pesquisa Satisfação no Trabalho, da Knowe.co e PageGroup, mais de 70% dos 2.420 profissionais brasileiros entrevistados buscam por reconhecimento no mercado de trabalho. Para driblar o cenário, líderes de equipes devem ter estratégias para contribuir com a satisfação do colaborador. 

De acordo com a pesquisa, 71,9% dos entrevistados buscam por reconhecimento, 67,9% buscam por clima corporativo agradável, 67,7% por ascensão profissional, 56,9% procuram por lideranças inspiradoras e 50,3% por flexibilidade no horário de trabalho. Outro dado também se destaca: 47,5% sentem pouco ou nenhuma inspiração por seus superiores. 

Desta forma, a maneira de agir do líder pode ser essencial na reversão dos resultados. "É a questão da valorização do capital humano, estimular pessoas internamente. A fidelização do colaborador, às vezes, é mais importante do que a do cliente. Todas as pessoas precisam ser valorizadas quando feita a atividade corretamente", afirma William da Silva, consultor empresarial da Sagacy consultoria. 

Segundo o especialista, há formas de a empresa reconhecer o trabalho da equipe, como apresentar feedbacks, planos de bonificações e premiações. "Um happy hour ou um bombom... O próprio elogio está longe das empresas hoje. Os colaboradores andam muito carentes desse feedback, de afago", defende. 

Compreendendo essas questões, Tiago Chagas Oliveira, gerente em uma empresa de automação industrial em Londrina, tem implantado estratégias para motivar a equipe. "Hoje, dentro da empresa, nós temos a bonificação por atingir meta, como levar para almoçar. Meu papel é incentivar que cada vez mais as metas sejam atingidas e também ensinar, apoiar, escutar as sugestões que eles têm para passar", defende. 

Colaborador há 13 anos, Oliveira conta que iniciou a carreira na empresa como estagiário. Vendo as oportunidades, foi se desenvolvendo e direcionando para questões administrativas, o que levou buscar a capacitação com mais duas faculdades. "Foi uma iniciativa minha com as oportunidades dentro da empresa e verifiquei que eu poderia ir por esse lado", afirma. 

Com conhecimento técnico e administrativo e, por ter passado pelas várias etapas, Oliveira acredita que serve como exemplo para a equipe. "O líder não pode ficar atrás de uma mesa apontando o que deve ser feito, ele deve ser um exemplo. Mostrar como tem que ser feito. Se o funcionário não sabe fazer, o líder precisa indicar onde tem a resposta", defende e acrescenta: "É preciso ajudar, botar a mão na massa, isso é importante. Não adianta cobrar se você não ajuda nesse crescimento." 

O gerente acredita que chegou ao cargo de liderança por tomar iniciativas e por ter se esforçado ao buscar conhecimento na área. Hoje, consegue olhar para o passado e compreender o que pode fazer com que ele seja bom na função que exerce. "O primeiro ponto é se colocar no lugar dos colaboradores e tentar ajudar. O segundo é dar condições para que eles executem o trabalho. E o terceiro é estar sempre ao lado, apoiando no que for preciso. Não só delegar e cobrar, mas motivar também", defende.

                       

ALÉM DO RECONHECIMENTO 

Cargo de liderança exige também que o profissional se responsabilize em outros aspectos apontados na pesquisa. Para um ambiente corporativo agradável, o gestor precisa assumir erros e acertos, ser imparcial e meritocrático. "Também tem que ter respeito e humildade para passar conhecimento, aceitar crítica e reconhecer uma ideia que vem do colaborador", explica o consultor. 

Sobre a ascensão na carreira, Silva afirma que é possível estimular os colaboradores com definição de plano de carreiras e fazer o LNT (Levantamento de Necessidade de Treinamento), a capacitação da equipe. "Às vezes o colaborador não busca uma ascensão financeira, mas sim profissional", defende. 

Muitas empresas também têm oferecido flexibilidade na carga horária, um dos itens desejados pelos brasileiros. "Se você bate a meta, você supriu a necessidade da empresa, algumas já pensam que esse funcionário pode tirar um tempo e voltar muito mais engajado para dentro da empresa", argumenta Silva, mas também salienta que essa flexibilização depende muito do segmento e atividade do colaborador. 

No quesito inspiração, o consultor afirma que com a crise surgiram lideranças desmotivadas, sem visão futura ou cenário positivo. "Quando você é líder, é espelho e tem que passar coisas boas, não apenas defender seu cargo. Acabou o espírito de equipe, hoje é muito mais fácil apontar o próximo para que ele saia e se mantenha no alto", critica. 

                          

'Será que eu tenho tudo que essas empresas querem' 

Embora a pesquisa aponte que 56,9% dos profissionais entrevistados busquem por lideranças inspiradoras, a satisfação no trabalho também pode ser alcançada de forma autônoma por meio dos colaboradores. Mas como lidar com a carreira na empresa quando se tem um mau chefe? 

Segundo Wellington Moreira, consultor da Caput Consultoria, o nível de satisfação do trabalhador é mais fácil de se atingir com o bom desempenho do líder, mas na falta de um, é possível se manter motivado. "Tem gente que prefere ficar reclamando, mas há dois caminhos: ou você muda de empresa ou aprende a trabalhar nesse lugar", afirma. 

Para não ficar apenas apontando os problemas do outro, Moreira defende que a equipe pode ajudar o líder a ser melhor. "Mas aí vai depender se ele quer. Uma coisa é ele ter dificuldade de ser um bom líder e outra é ele querer ser melhor", aponta. 

O consultor explica que os profissionais precisam entender o que é reconhecimento. Para alguns o elogio cai bem e para outros é necessário ter o nome no jornal informativo, mas, além disso, destaca a importância de se questionar. "A gente só tem reconhecimento quando fez mais que a obrigação. A maior parte das pessoas acha que tem um resultado extraordinário e não tem." 

No aspecto de clima agradável na empresa, afirma que muitos assumem o papel de liderança de maneira informal e acabam amenizando o ambiente, não dependendo sempre do gestor. "Seja a pessoa com a qual gostem de trabalhar, não crie intrigas, esteja disposto a ajudar e auxiliar em um clima alegre, que ri um pouco quando acontece algo ruim". Dessa forma, acredita que o clima organizacional flui melhor. 

Já a ascensão profissional depende muito do relacionamento entre superior e subordinado, por isso, Moreira afirma que é necessário sempre ter uma boa relação com a liderança. Dependendo da cultura da empresa, a afinidade, às vezes, pode passar por cima da meritocracia. 

Nas organizações que possuem alto grau de satisfação, a competitividade por um cargo é mais alta. Dessa forma, o consultor indica a autoavaliação, voltando a pergunta para si: "Será que eu tenho tudo que essas empresas querem que eu tenha?" 

Como funcionários, Moreira afirma que nem sempre é possível encontrar líderes inspiradores, e nesta situação cabe se questionar para buscar a satisfação. "O que eu posso fazer? O que está ao meu alcance? Como lidar? Então, a pessoa racionaliza e faz a parte dela", finaliza. (L.T.)

                

Fonte: Folha de Londrina , 04 de dezembro de 2017