Quase 70% concordam total ou parcialmente que “todos os políticos são corruptos”.  

                             

                          

Uma pesquisa realizada pelo Ministério Público em conjunto com a Secretaria de Estado da Educação através do projeto “Geração Atitude” confirma que a maioria dos jovens paranaenses tem grande rejeição à política e aos políticos. Segundo o levantamento, que ouviu 10.952 alunos de ensino médio de 176 escolas públicas do Estado em outubro do ano passado, apenas 37,7% disseram ter interesse na política, e 68,7% concorda parcial ou totalmente que todos os políticos são corruptos. Ao mesmo tempo, 19,8% dos pesquisados, admitiram concordam total ou parcialmente com a possibilidade de vender o voto por R$ 1 mil. 

A grande maioria dos alunos não acredita que os políticos representam bem a sociedade, independente de cargo ou função, sejam senadores (75,4%), deputados federais (74,3%), deputados estaduais (74,7%), vereadores (67,3%), governador (77,8%) ou o presidente da República (81,8%). Somente 1,66% dos entrevistados disseram participar ativamente de audiências públicas, contra 12,76% que participam às vezes e 85,6% que nunca participaram ou não sabem do que se trata. Outros 2,79% dos estudantes afirmaram atuar em Organizações Não-Governamentais (ONGs) e 2,57% de associações, diante dos 89,6% que nunca participaram de ONGs e 86,18% dos que jamais atuaram em associações de bairros. Os que participam “às vezes” somaram 10,4% no caso das ONGs e 11,25% no das associações.

Esse distanciamento se reproduz em relação à política estudantil. Apenas 5,54% deles declararam participar ativamente dos grêmios estudantis, enquanto 13% participam “às vezes”, contra 81,4% de alunos que nunca participaram ou sequer sabem da existência dessa instância de representação. De acordo com o levantamento, 56% disseram jamais terem participado de manifestações, enquanto 38% foram algumas vezes e apenas 5,9% declararam participar ativamente. 

Apesar disso, mais de 80% dos alunos acreditam que a educação política deveria estar presente nas escolas (53,6% concordam totalmente com a ideia, e 27,8% concordam parcialmente – foram 18,6% os que afirmaram discordar total ou parcialmente).
Além disso, 37,6% acham que o jovem de 16 anos está preparado para votar, contra 36,3% dos pesquisados, por sua vez, creem (parcial ou totalmente) que não. E 41,2% concordam totalmente e 18,2% parcialmente com a obrigatoriedade do voto. Mas apenas 33% dos pesquisados com idade entre 16 e 18 anos disseram já ter feito o título de eleitor.

Desinformação – A pesquisa também mostra alto grau de desinformação em relação às instituições políticas e suas funções. Responderam não saber o que é a Constituição Federal 41,2% dos alunos. Também 41% dos estudantes não sabem dizer o que faz um deputado estadual, assim como 33% não têm ideia do que faz um juiz, e 39,3% dizem o mesmo do Ministério Público.

A pesquisa detectou ainda que o principal meio de informação para 31,48% dos estudantes é a internet – a TV apareceu em segundo lugar, com 28,9%. Os jovens elegeram como problemas mais graves nos seus municípios a saúde (26,2%), a segurança (16,3%), o desemprego (15,9%), o saneamento básico (15,5%) e a educação (10,5%). Outro indicador interessante é que mais de um terço dos estudantes (34,3%) diz colaborar com a renda familiar.

                   

Para MP, números mostram descrença

Para o promotor de Justiça Eduardo Cambi, coordenador do Geração Atitude, o resultado da pesquisa sobre a relação dos jovens paranaenses com a política é preocupante. E mostra uma cultura de passividade diante da realidade do País. 

“Eles acreditam que a corrupção é um dos grandes problemas do país e que os políticos não representam adequadamente a sociedade, mas não tomam atitudes para mudar esse quadro. São pouquíssimos os que têm interesse pela política e que participam de atividades de cidadania, dentro ou fora da escola. Ou seja, os jovens acreditam que a situação está ruim, mas pouco ou nada fazem para mudá-la e parecem não acreditar na força da participação popular”, lamenta Cambi.

O procurador de Justiça Armando Antônio Sobreiro Neto, coordenador das Promotorias de Justiça Eleitorais do Ministério Público, destaca o alto percentual de alunos admitindo a venda do voto. “Isso revela que a compreensão da dimensão real da corrupção não é alcançada, já que limitada pelos efeitos da cultura da ‘vantagem’ e da ‘esperteza’. Não há compreensão, por parte de boa parcela dos jovens entrevistados, de que a vantagem indevida recebida em disputa eleitoral vai custar muito caro quando os políticos corruptos assumires o poder, notadamente nas políticas públicas nas áreas mais sensíveis (saúde, educação, segurança, etc.)”, afirma. 

Cambi também acredita que o retrato encontrado nas escolas é um espelho da sociedade. Visitando escolas nas ações do programa, especialmente à noite, diz ter encontrado muitos alunos que trabalham de dia e chegam cansados à sala de aula, bem como professores desmotivados. “É preciso fazer algo para mudar o cenário cinza de algumas escolas”, afirma, acreditando que o incentivo ao exercício da cidadania pode ajudar a alterar esse quadro.

                              

Fonte: Bem Paraná, 30 de janeiro de 2018