Em diferentes frentes — e com diferentes resultados — o setor de árvores brasileiro, que produz anualmente cerca de R$ 200 bilhões e emprega quase 3 milhões de pessoas, luta para sobreviver ao tarifaço estabelecido contra o Brasil pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O setor se destaca no Brasil em especial pela celulose, obtida a partir de cavacos de madeira que passam por processo industrial e utilizada, por exemplo, para produzir papel. O país é o maior exportador e segundo maior produtor do mundo de celulose e nesta frente, até o momento, a sensação é de alívio.

Aproximadamente 3,5% de tudo que o Brasil vende para os Estados Unidos é celulose (US$ 94 milhões em 2024), segundo dados do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).

O segmento foi beneficiado com a isenção da sobretaxa de 40% estabelecida por Trump e também viu ser revertida a alíquota de 10% fixada em 2 de abril.

Segundo a Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), isso levou alívio a cerca de 90% da celulose que o Brasil exporta aos EUA. “Temos clientes muito relevantes nos Estados Unidos. De certa forma, uma parte importante do setor respira”, afirmou Paulo Hartung, presidente da entidade ao CNN Money.

Em outras frentes, a luta segue intensa. É o caso do segmento de madeira processada, que, segundo o Mdic, é responsável por até 1,2% de tudo que o Brasil vende para os Estados Unidos (US$ 34,2 milhões em 2024).

Às vésperas de as tarifas entrarem em vigor, empresas já estabeleciam férias coletivas e alertavam para a possibilidade de realizar demissões.

Se a nível nacional os dados são relevantes, é um agravante o recorte regionalizado. Segundo levantamento da Fiep (Federação das Indústrias do Paraná), a madeira representa 40% das exportações paranaenses aos Estados Unidos e as taxas vêm ferindo o estado.

Segundo levantamento da Abimci (Associação Brasileira de da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente), as taxas impactaram diretamente cerca de 10 mil trabalhadores, sendo que 4 mil já foram demitidos. Outros 5,5 mil estão em férias coletivas e 1,1 mil enfrentam processo de layoff — suspensão temporária do contrato.

E em determinadas frentes o desafio segue se agravando: nesta semana, Trump anunciou novas tarifas de 10% sobre madeira e de 25% sobre armários e móveis. O republicano justificou a medida como método para fortalecer a indústria local e apoiar a segurança nacional.

Novamente o recorte regional é relevante. O setor moveleiro do Rio Grande do Sul tem os EUA como principal destino de suas vendas ao exterior, correspondendo a cerca de 16% do total (US$ 117,5 milhões no primeiro semestre de 2020. Os dados são da Movergs (Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul).

Para o segmento, as taxas tornam as exportações de móveis das categorias cozinha, banheiro e estofados para os EUA “praticamente inviável”. “A taxação preocupa, especialmente, empresas que têm os Estados Unidos como principal parceiro comercial”, disse Ana Cristina Schneider, consultora de mercado e estratégia da Movergs.

Executivos buscam solução

Hartung destaca que, enquanto os setores continuam lutando para sobreviver, o governo brasileiro precisa insistir nas negociações. “Quando você vai a uma porta, bate e ela continua fechada, ao invés de voltar, você precisa bater de novo, uma hora ela abre e você consegue entrar no ambiente, sentar numa mesa e poder dialogar”, disse.

Para Ana Cristina Schneider o momento atual é de “readequação, análise e elaboração de estratégias”. “Conquistar novos parceiros não é uma tarefa fácil, até mesmo porque cada país tem suas particularidades em relação a consumo, burocracia, logística e acordos comerciais”, disse.

“É possível que algumas indústrias precisem rever seu mix de produtos, investir em marketing e networking, contratar consultoria, enfim, buscar alternativas para diminuir a dependência do mercado norte-americano. Uma estratégia que pode ser a virada de chave é a participação em feiras internacionais”, completa.

CNN

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