Cena do filme 'Tempos Modernos' em montagem de Maicon Silva

São previsões para os próximos anos, com o avanço da chamada indústria 4.0.

Apesar de o país ter caído 22 posições no índice global de inovação em 2016, a expectativa é que o tamanho do mercado acabe empurrando o desenvolvimento.

"A indústria sofre efeitos da crise, com redução de financiamento à inovação, mas é desafiada a avançar. É uma imposição para competir", diz Rafael Lucchesi, diretor da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

Conectividade, internet das coisas em todas as fases da produção, impressora 3D e inteligência artificial estão em uso em especial nas cadeias de biocombustível, automotiva e petroquímica.

Nelas, já se notam ganhos de produtividade, prazos mais curtos de lançamento de produtos, maior flexibilidade de linhas de produção e impacto na capacidade de as empresas se integrarem em cadeias globais de valor.

"Os desafios ainda são muitos, até entre segmentos com maior grau de uso das tecnolo­gias", diz João Emílio Gonçalves, gerente de política industrial da CNI.

Entre eles, ele cita ampliação e melhoria da infraestrutura de banda larga (essencial para o sistema), aplicações das novas tecnologias entre fornecedores, aspectos regulatórios e formação profissional.

Com a Mobilização Empresarial pela Inovação, sob coordenação da CNI, o objetivo é buscar alternativas para resolver desafios, com políticas públicas, investimento e estratégias que de fato transformem a indústria.

Com 900 robôs nas fábricas de Pernambuco e Minas Gerais, o grupo FCA (reúne Fiat, Jeep e Chrysler) já produz modelos com conceito de 4.0, como o Fiat Argo.

Na linha de produção são comuns exoesqueletos (estrutura biomecânica usada para ergonomia em operações de maior risco), impressora 3D e smart watch (funciona como relógio de pulso e controla a produção).

"Em cada carro são rastreados os dados das peças montadas. Há um controle maior de qualidade em tempo real", diz o italiano Pierluigi Astorino, gerente da FCA para a América Latina.

Ao conectar a produção de freios ABS em 11 unidades no mundo, a alemã Bosch foi uma das primeiras a usar e fornecer tecnologias para a indústria 4.0.

A integração entre as linhas foi planejada há sete anos mas só a partir de 2013 os softwares ganharam algoritmos que permitiram torná-las mais inteligentes.

"Se o tempo de uma máquina passar de 10% do previsto, é dado imediatamente aviso ao gestor. Antes, só se veria a perda de produção no dia seguinte", diz Julio Monteiro, diretor da Bosch.

A linha de freios também para automaticamente nas fábricas quando são detectados problemas. "Se há defeito em um lote, o sistema avisa às demais fábricas, e o componente é descartado."

                                 

SUSTENTABILIDADE

No setor têxtil, os avanços miram ainda processos mais sustentáveis. Em Santo André, a fábrica da Rhodia, do grupo Solvay, criou o primeiro fio têxtil de poliamida biodegradável do mundo.

"Roupas com esse fio desaparecem em até três anos, se descartadas em aterros sanitários. As fibras sintéticas levam até 70 anos", diz Renato Boaventura, presidente da área de negócios Fibras. Caso das peças íntimas, cujo descarte é comum.

O grupo aplica cerca de 2,5% do faturamento mundial em inovação, pesquisa e desenvolvimento. Com processos digitalizados, reduziu consumo de água, valor, energia e custo em 10%.

Com a manipulação de nanopartículas e microencapsulação de ativos, a Nanovetores Tecnologia (SC) criou processos para aumentar a eficácia de produtos e permitir novos tratamentos.

"Conseguimos colocar um ativo, uma vitamina, um óleo essencial no produto sem misturá-lo ao creme ou em contato com a embalagem. Isso faz com que o cosmético não perca vida útil, além de aumentar sua eficácia", explica Betina Zanetti Ramos, diretora e sócia da Nanovetores Tecnologia.

Quando encapsulado, esse "revestimento natural" protege os ativos e potencializa a sua ação, reduzindo de meses para dias o prazo para o início dos efeitos.

Indústrias de cosméticos, dermatológicas, veterinárias e têxteis já usam roupas com tecido com microencapsulados que hidratam o corpo ou repelem mosquitos.

Nas farmacêuticas, a inovação ainda está mais focada nos produtos do que nos processos, diz Jair Calixto, gerente de inovação do Sindusfarma, que representa o setor. "Há espaço para a indústria 4.0 avançar no controle de dados. Hoje, parte dos dados repassados à Anvisa ainda é feita em planilhas ou até manualmente."

                                                 

INDÚSTRIA 4.0 OU PRODUÇÃO INTELIGENTE

O que é
A quarta revolução industrial integra a produção das empresas a partir de sensores e equipamentos conectados em rede e conecta os mundos real e virtual da cadeia produtiva e da economia

Como é
A internet é a plataforma de intercâmbio; ela integra um número ilimitado de dispositivos, a internet das coisas, ou IoT, na sigla em inglês

Como funciona
Máquinas e insumos "conversam" ao longo da cadeia com escala e flexibilidade do processo de fabricação, que pode ser feito sob medida (customizado)

O que envolve
De desenvolvimento de produtos a simulação das condições de produção e pós-venda. O processo industrial passa a ir muito além da produção e distribuição de um produto  

                     

Fonte: Folha de São Paulo, 30 de junho de 2017