Esqueça a ideologização do ensino ou o endurecimento das leis penais: no Brasil, jovem vai pouco à escola e policial sai pouco às ruas

Aumentar o acesso da população às armas, vigiar o que professores dizem na sala de aula, diminuir o controle sobre os policiais que matam em serviço, elevar a dureza dos regimes e das leis penais, tudo isso faz parte da agenda conservadora de presidente, governadores e legisladores eleitos em outubro.

A possível conversão em atos e regulamentos oficiais das ideias que defendem, desde que respeitada a liturgia democrática, estará legitimada. Os graves e urgentes problemas nacionais, no entanto, serão mal combatidos por essas plataformas, que parecem copiadas de movimentos neocons de países ricos.

Aqui os dramas da segurança pública e da educação encontram na juventude o ponto de intersecção. A despeito da visão de mundo –a esquerda enfatiza as falhas no amparo estatal; a direita, a falta de repressão--, o problema continua lá, gigantesco.

A matança de homens brasileiros da adolescência até os vinte e tantos anos de idade é tamanha que produz uma rampa saliente na tábua de mortalidade, algo totalmente atípico para esse período em regra florescente da vida.

Há quase duas décadas a frequência escolar na faixa etária de 15 a 17 anos permanece virtualmente estagnada, pouco abaixo de 80%. A média embute uma piora progressiva: aos 17 anos, apenas 60% vão às aulas. Nesse ritmo, serão necessários 200 anos para universalizar o ensino básico no Brasil.

Que tal deixar de lado a perfumaria ideológica e encarar o problema das faltas, das mudanças constantes de professores, da evasão, do desalento e da repetência no ensino médio?

Que tal resistir à retórica fácil da truculência e dar instrumentos aos governos estaduais para que coloquem mais policiais bem treinados nas ruas em vez de ficarem pagando aposentadorias elevadas durante décadas a oficiais fora de serviço?

O custo da ignorância se traduz em mais violência, menos renda e menos bem-estar.

Vinicius Mota

Secretário de Redação da Folha, foi editor de Opinião. É mestre em sociologia pela USP.

Fonte: Folha de S.Paulo, 13 de novembro de 2018.


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