De escolas diferentes, duas economistas desmontam, em matéria do G1, o discurso do governo de que a não aprovação da reforma da Previdência neste ano levará o país ao caos econômico. Para Monica de Bolle, a gestão faz “terrorismo”. Já Esther Dweck aponta que impacto das mudanças na aposentadoria, ao contrário do que diz a versão oficial, deve ser negativo para a economia.

                     
Esther Dweck
               

Na sua propaganda, em entrevistas e comunicados, o governo tem dito que a reforma da Previdência é fundamental para equilibrar as contas públicas e recuperar o crescimento. Uma nota técnica do Ministério do Planejamento afirma que, sem as alterações, o próximo ano será de mais recessão.

Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Esther Dweck destaca o papel que a Previdência tem para a economia em momentos de crise e expõe os efeitos da reforma. "Os beneficiários mais pobres usam toda a sua renda para consumo. A Previdência gera uma renda independente do que está acontecendo no mercado de trabalho e ajuda no momento de crise", diz Dweck.

Ela também discorda da ideia de que a medida reduzirá o endividamento público, aumentando a confiança dos empresários na economia, o que levaria a mais investimentos. Para Esther, é natural que, em épocas de crise, a dívida pública em relação ao PIB se amplie, uma vez que a arrecadação cai e há um encolhimento da própria economia.

Na sua avaliação, o corte de gastos promovido pelo governo só agrava essa situação. Significa menos dinheiro circulando e menos investimentos em infraestrutura. Para ela, na crise, a gestão deveria ampliar os gastos públicos, e não reduzi-los. "Cortar gastos na crise é ajuste fiscal autodestrutivo", resume.

Pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, em Washington (EUA), Monica de Bolle é uma economista ortodoxa. Foi diretora da Casa das Garças, tradicional reduto do pensamento econômico liberal no Brasil. Mas o otimismo que esboçou com a economia brasileira no início do governo Temer não durou seis meses. 

Ela minimiza os efeitos que os cortes de gastos podem ter para um crescimento da economia e classifica como “bem terrorista” o cenário catastrófico pintado pelo governo para o caso de a reforma não passar. Apesar de defender a necessidade de mudanças na Previdência, ela avalia que o debate do tema tem que ficar para depois de 2018. 

"O fator determinante (para o crescimento) é a política, não é a Reforma da Previdência. Esse cenário de que o mundo acaba se a Reforma da Previdência não passar agora acho extremamente exagerado, bem terrorista", diz.

De acordo com ela, envolvido em uma série de denúncias de corrupção e sem apoio popular, o governo Temer hoje não tem legitimidade para seguir com o projeto. "É um governo em que ninguém acredita, pelas razões óbvias que a gente sabe", afirma.

                

Fonte: Vermelho, 06 de dezembro de 2017